O novo método de gestão de pagamentos da Petrobrás conseguiu um fato inédito no Brasil: levou trabalhadores e patrões a se unirem por um mesmo objetivo. Sindicatos que representam as duas categorias estão se aproximando para sensibilizar a estatal, com o intuito de mostrar as dificuldades geradas em todas as instâncias pela sua rigidez na avaliação de pleitos. .
A demora em aprovar custos extras em obras, mesmo quando as empresas apresentam as devidas causas, tem gerado um efeito em cadeia no setor de construção e montagem nacional. A Petrobrás não paga os pleitos das empreiteiras, que não pagam seus fornecedores nem seus funcionários, e todos acabam afetados pela longa discussão travada entre a diretoria da estatal e os responsáveis pelas obras. Muitas vezes desiste-se do contrato, o que leva a demissões e, em alguns casos, ao não pagamento das rescisões. .
A situação já causou atrasos em obras, levou uma série de empresas tradicionais a graves crises e culminou em centenas de demissões espalhadas pelo Brasil. O Petronotícias acompanhou diversos casos exemplares e agora um novo movimento mostra a que ponto chegou o cenário. .
O Sindicato dos Trabalhadores de Construção e Montagem de São Gonçalo, Itaboraí e Região (Sinticom) entrou em contato com o Sindicato das Empresas de Engenharia de Montagem do RJ (Sindemon) para que se unam nos apelos à Petrobrás. .
Desta vez, os dois sindicatos, de operários e de empresários, concordam que é necessária uma mudança na forma de avaliação dos pleitos em obras da Petrobrás e querem convencê-la disso. A aproximação se deu após um novo caso começar a dar problemas. Refere-se à Ecman Engenharia, indicada pelo Sinticom como incapaz de levar adiante seu contrato com a petroleira no Comperj. .
Os trabalhadores pedem a ajuda dos patrões para que não seja necessária uma nova paralisação das obras de construção da refinaria, hipótese aventada para o caso de as negociações não avançarem até quinta-feira (12). .
Na última semana, os sindicatos representantes dos trabalhadores em obras terceirizadas da Petrobrás já haviam ido a Brasília, onde se encontraram com o ministro Gilberto Carvalho, para reivindicarem mudanças na gestão de pagamentos da estatal e na garantia de segurança ao emprego dos operários, mas parece que o movimento não surtiu o efeito desejado até o momento.
No dia 5, o presidente do Sinticom, Manoel Vaz, afirmou que os sindicatos já estavam cansados de resolver problemas de trabalhadores demitidos sem o devido recebimento de suas rescisões, além de alguns casos em que se acumulavam salários atrasados, e pediu mais atenção da estatal.
“A Petrobrás não pode continuar contratando empresas no formato que está fazendo. Tem muita gente quebrando com esse arrocho e quem está ficando com o pepino são os trabalhadores. Estamos que nem marisco, entre o rochedo e a maré”, afirmou no dia.
Histórico:
Alguns casos marcantes envolveram empresas que atuam há décadas no setor de óleo e gás brasileiro e acabaram se vendo em posições complicadas. Uma das primeiras a reclamar da postura da Petrobrás nas negociações foi a Tenace, da Bahia, que pediu a falência em novembro de 2012 e recebeu a aprovação da justiça em outubro deste ano.
Na época, a empresa alegou que o projeto original de um contrato com a estatal precisou ser modificado em função de condições adversas encontradas no local da obra, realizada no Rio Grande do Norte, mas não obteve a aprovação da Petrobrás para os aditivos referentes aos custos extras que teve no empreendimento. A empresa empregava 3 mil funcionários.
Em janeiro deste ano foi a vez do aperto da GDK, que pediu recuperação judicial por dificuldades financeiras, sendo que boa parte de seus contratos eram relativos à Petrobrás. Em fevereiro, a Conduto também passava por um momento de aperto, quando sua dívida com credores chegou a cerca de R$ 80,6 milhões, fruto principalmente de problemas em uma obra na Refinaria Abreu e Lima (Rnest).
Em agosto, o caso da Multitek despertou de vez o sinal vermelho no mercado, quando a empresa anunciou a demissão de 1.700 empregados, reclamando de um débito da Petrobrás de R$ 245 milhões. Além do problema trabalhista, a questão gera atrasos, já que a empresa, que atuava no setor há 28 anos, paralisou as 13 obras em que estava trabalhando para a estatal.
Pouco depois, a Produman, que realizava serviços de manutenção na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), também deu um passo atrás, demitindo cerca de 1.500 pessoas sem o devido pagamento das rescisões. Outras empresas, como Jaraguá, Egesa, Sertenco e Lomater também passaram por complicações similares, mas o problema não parece ter sido muito bem avaliado internamente na Petrobrás, enquanto a defasagem do preço dos combustíveis em relação ao exterior tem dominado o papel central das preocupações no alto escalão da empresa.
A presidente da petroleira, Graça Foster, sempre que questionada, afirma que pleitos não significam compromissos, mas negociações. No final de setembro, ela reconheceu em entrevista coletiva que haviam sido realizadas algumas mudanças na forma de avaliação dos pleitos, mas não quis revelar o volume de recursos em discussão.
Fonte -Petronotícias