PRÉVIA DO IPCA REFORÇA SINAIS DA RECESSÃO SOBRE PREÇOS DE SERVIÇOS

A surpresa favorável em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de março, que subiu 0,43% abaixo do piso das expectativas. O dado divulgado pelo IBGE provocou revisões nas estimativas de curto prazo.

A prévia da inflação deste mês desacelerou quase um ponto (0,99 ponto percentual) ante fevereiro, puxada principalmente pela menor alta (de 1,92% em janeiro para 0,77% em fevereiro) na parte de alimentação e bebidas, onde foi forte a influência de alimentos in natura. Além disso, o IPCA-15 mostrou reforço da dupla tendência já vista no IPCA do mês anterior: reajustes menos intensos em serviços, deflação da energia elétrica (2,87%) e, na ponta oposta, alta de itens influenciados pela desvalorização do real a inflação de bens comercializáveis no primeiro trimestre ficou em 2,94%.

Dos três movimentos, o último pode perder fôlego em breve (dado o movimento mais recente do câmbio, de valorização do real) e parar de empurrar para cima os preços. Ao mesmo tempo, a recessão continuará a fazer o trabalho de conter reajustes em alguns segmentos de serviços. De fevereiro para março, a inflação do conjunto que reúne preços como aluguel, empregada doméstica e cabeleireiro diminuiu de 1,26% para 0,29%, com ajuda da deflação de 10,79% das passagens aéreas e do arrefecimento sazonal dos reajustes de mensalidades escolares. Para expurgar a volatilidade dos bilhetes aéreos e a sazonalidade de educação, Márcio Milan, da Tendências Consultoria, excluiu os dois itens do cálculo da inflação de serviços.

Ainda assim, o índice desacelerou bastante entre a prévia de fevereiro e a atual, de 0,83% para 0,38%. Em 12 meses, esse grupo aumentou 7,8% em março, ante 8,16% em fevereiro. “É muito factível esperar que os preços de serviços apresentem uma trajetória mais condizente com o ajuste do mercado de trabalho”, afirmou Milan. A depender do IPCA fechado deste mês e de abril, a consultoria pode revisar para baixo sua estimativa para o avanço dos preços de serviços em 2016, atualmente em 7,2%. A previsão para a alta do indicador oficial de inflação no ano segue em 7%. A inflação elevada de 2015 (10,67%) e o reajuste de 11,6% do salário mínimo poderiam gerar uma indexação mais elevada.

Não é o que está acontecendo, mas em alguns itens essa tendência (indexação mais contida) é bastante expressiva, como alimentação fora do domicílio. Na média dos últimos três meses, os preços em restaurantes, lanchonetes, padarias etc. subiram 0,7% ao mês, bem abaixo do custo da alimentação em casa, que aumentou 1,85% ao mês. Historicamente, a dinâmica entre esses dois grupos é muito diferente. No ano passado, por exemplo, o grupo alimentação no domicílio subiu 1,24% em média nos primeiros três meses do ano e, fora de casa, 1%. É a queda na renda das famílias e a alta do desemprego que estão contendo reajustes em restaurantes e lanchonetes. “Quando temos um choque de alimentos in natura, isso acaba afetando os preços de alimentação fora do domicílio, algo que não estamos vendo agora”, diz Leonardo Costa França, economista da Rosenberg Associados.

Para França, a desaceleração de 1,08% para 0,44% desses preços na passagem mensal indica que o efeito da atividade sobre o setor é maior do que o do recente choque de custos. Educação (7% em 2015 e 6,8% no acumulado do primeiro trimestre de cada ano) e serviços pessoais (2,5% para 2,2% na mesma comparação) também acumulam altas menores neste ano em relação aos primeiros três meses do ano passado, mas serviços de saúde (2,6% para 2,9%) e o grupo consertos e manutenção em domicílios (2,4% para 3,2%) mostram uma inflação maior neste começo de ano.

Não fosse a inflação de dois dígitos de 2015, o impacto da recessão sobre os preços de serviços, que já está em curso, seria ainda maior, avalia Danilo Passos, da Santander Asset Management. Mesmo assim, afirma, alguns itens dentro desse grupo subiram menos que o esperado no IPCA¬15 de março, como aluguel, que cedeu de 0,67% para 0,18% entre fevereiro e a medição atual, e empregado doméstico (0,65% para 0,72%). Para Passos, a prévia da inflação deste mês foi favorável não só devido ao comportamento dos serviços, mas também ao índice de difusão e aos núcleos.

A proporção de preços que subiram no mês caiu bastante entre fevereiro e março, de 77,5% para 71,5%. Já a média das três medidas usadas para expurgar ou diminuir o impacto de itens voláteis sobre a inflação ficou em 0,49%, também abaixo da alta de 1,04% de fevereiro. Os bons sinais da inflação de serviços e de preços monitorados no primeiro trimestre, reforçados pelo IPCA¬15 de março, associados ao movimento mais recente do dólar no mercado doméstico podem abrir espaço para novas revisões, para baixo, nas projeções para o IPCA do ano. No Focus, ela já caiu por duas semanas seguidas. Após a divulgação da prévia deste mês, Passos reviu ligeiramente para baixo sua previsão para a alta do IPCA de março, de 0,49% para 0,46%. “Não acho que a desaceleração provocada pela atividade será suficiente para o IPCA encerrar 2016 abaixo de 7%, mas ela vai despertar no mercado a dúvida se a desinflação pode ser maior”, disse.

Fonte: Valor Econômico

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