PRÉDIOS DETERIORADOS OU ENTULHO DE CONSTRUÇÕES QUE DESABARAM AMEAÇAM PEDESTRES NO CENTRO

Na quarta-feira (19), pela segunda vez este ano, técnicos da Defesa Civil municipal estiveram em edifício na altura da Praça Mauá, depois de um novo susto causado por uma trepidação.

O simples ato de caminhar pela calçada do Edifício Riqueza, na Praça Tiradentes, mesmo depois de quase um ano da explosão do restaurante Filé Carioca, que ficava no térreo, é um teste de coragem. As ameaças agora são um bueiro sem tampa, assim desde a tragédia, e partes da fachada do prédio prestes a cair. Como não há sinalização ou isolamento, os pedestres enfrentam os perigos que podem vir do alto ou estar no chão. O imóvel não é o único a dar medo no Centro da cidade. Perto da Tiradentes, na esquina das ruas Regente Feijó e Luís de Camões, de um antigo casarão, só restou a fachada, que faz todo mundo correr quando chove ou venta. A situação de abandono das construções é tão grave que ontem, pela segunda vez este ano, técnicos da Defesa Civil municipal estiveram no prédio da Rua Primeiro de Março, 161, na altura da Praça Mauá, depois de um novo susto causado por uma trepidação.

Em março, o mesmo prédio já tinha sido vistoriado porque teria trepidado. Mas, assim, como ontem, foi liberado. Segundo o subsecretário da Defesa Civil municipal, Márcio Motta, a denúncia dava conta da existência de várias rachaduras, mas não foram constatados danos estruturais.
As histórias de desabamentos aumentam o receio da população. O problema é agravado pelo abandono dos locais onde ficavam as antigas construções, que se transformam em depósitos de entulho. Exemplos não faltam. Nas ruas do Lavradio com Relação, as ruínas do segundo andar do prédio onde funcionou o Centro Cultural do Cordão do Bola Preta continuam sobre a laje restante, e parecem pôr em risco o térreo do sobrado. Pedro Ernesto Marinho, presidente do bloco, alega que pendências judiciais atrasaram o começo das obras, que deverão ser iniciadas antes do carnaval de 2013:
— Dá uma impressão ruim, mas não há risco.

O Riqueza é o que mais assusta. O calçamento de pedras portuguesas, em frente, até hoje não foi consertado, e o bueiro aberto só aumenta a chance de um acidente. Anteontem, havia um pedaço de madeira no buraco.
— Já vi gente cair nesse buraco, que está aberto desde aquela época (dia 13 de outubro de 2011, data da explosão no Filé Carioca, em decorrência de um vazamento de gás). Há um mês, um senhor caiu dentro dele e precisou que outras pessoas o retirassem de lá. Podiam refazer a calçada, independentemente do prédio — diz o jornaleiro Jorge Luiz Rosa Leal, dono de uma banca próxima.

Os perigos da calçada são mais visíveis. Mas, basta uma olhadinha para cima para ver que o edifício continua destruído, sem qualquer melhoria aparente. Para piorar, há um longo fio pendurado de um aparelho de ar condicionado no terceiro andar, além de vergalhões retorcidos na sobreloja. Um letreiro da sorveteira que ficava no térreo do Riqueza mal se sustenta:
— Um cliente meu foi lá no prédio reclamar desse letreiro — diz Jorge Luiz, que também reclama dos mosquitos que vêm do interior do edifício, cujo térreo permanece cheio de entulho. — Tenho medo de dengue.

O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro esteve ontem nos endereços visitados pela reportagem do jornal e constatou que há riscos:
— O estado (do Edifício Riqueza) não é satisfatório. Ele está com fios aparentes, e os materiais e equipamentos estão se deteriorando. Não podemos afirmar que ele vai cair, mas existe a possibilidade. Essas obras deveriam estar sendo feitas em caráter emergencial. Ao menos, deveria haver proteção para a passagem dos pedestres.

Integrante da comissão de obras do Riqueza, o empresário LimachemCherem, que mantinha uma escola de Papai Noel no local, diz que a obra de recuperação está parada devido a um impasse entre a seguradora, a empreiteira e a administração do condomínio. Segundo ele, o assunto será discutido numa reunião domingo.
— A tragédia vai fazer um ano, e a obra ficou só na retirada da estrutura quebrada — disse.

O GLOBO entrou em contato com o escritório do síndico, mas não obteve retorno.

O antigo imóvel da Rua Regente Feijó 62 tem aspecto fantasmagórico. Da fachada — única coisa que restou do casarão —, brotam galhos de árvore. Plantas cobrem a fiação até o outro lado da rua.
— Quando venta, a gente grita para as pessoas saírem de baixo — diz João Frasão, de 75 anos, que trabalha na área desde 1961 e afirma que o imóvel está abandonado há oito anos. — De vez em quando caem pedaços lá de cima.

A prefeitura informou que será lançado um edital para arrendar o edifício, desapropriado e incluído na revitalização da Praça Tiradentes.


Fonte -Fonte: O Globo / Ludmilla de Lima e Pedro Kirilos

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