PARCERIA VIABILIZA TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO AMBIENTALMENTE EFICIENTES

Enquanto aprendem modernas técnicas de construção sustentável, trabalhadores erguem casa modelo

Para promover o aprendizado de procedimentos e técnicas que melhorem condições de trabalho na construção civil e aprimorar a qualidade do ambiente construído segundo critérios de sustentabilidade, trabalhadores de uma antiga cooperativa de mão de obra participaram de um processo formativo. Durante 18 meses, eles participaram na prática da construção de uma residência familiar, desde o projeto até a finalização da obra. Isso foi possível a partir da parceria entre pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, campus Mata Atlântica (CFMA), em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, com o grupo de trabalho Constrói Fácil (antiga cooperativa), a Comunidade Ecológica Pedras do Prata (Ecoprata) e a Bonnet Síntese Soluções Ambientais, num projeto que contou com recursos do edital Apoio ao Desenvolvimento de Modelos de Tecnologia Social, da FAPERJ. A iniciativa foi uma das metodologias certificadas na 7ª edição do Prêmio Tecnologia Social do Banco do Brasil, em 2013.

Psicóloga e doutora em Engenharia de Produção, Flávia Soares – responsável por projetos na área de Tecnologias Sociais do CFMA – explica que há cerca de três anos o grupo Constrói Fácil, na época uma cooperativa popular, elaborou, em conjunto com o CFMA, a Ecoprata e a Bonnet Síntese Soluções Ambientais, um projeto envolvendo o aprendizado e a gestão coletiva do projeto e da obra.

Dos trabalhadores, o principal envolvido foi Arnóbio Nóbrega, que até hoje atua como um dos sócios na Constrói Fácil. “O projeto partiu da antiga cooperativa – hoje, grupo Constrói Fácil – organizada como uma iniciativa de economia solidária dos anos 1990, criada com o objetivo de reunir e capacitar trabalhadores excluídos do mercado da construção civil, que, em geral, absorve grande parte da mão de obra que vem da região Nordeste, com pouca escolaridade e baixa qualificação, e em que as relações de trabalho costumam ser precárias. Procuramos os pesquisadores do CFMA na época porque tínhamos dificuldade de manter nossos empreendimentos na área de Jacarepaguá. Víamos grandes construtoras empregarem modernas técnicas e erguerem rapidamente grandes prédios, enquanto nós não tínhamos acesso às modernas tecnologias”, recorda Nóbrega.

Instalação de calhas no telhado para captação de água de chuvas:

O método utilizado foi definido pelos próprios trabalhadores em diálogos com o consultor, que apontou a necessidade de um processo de aprendizado contínuo, ancorado na aplicação de novas técnicas e novos métodos de trabalho, como alvenaria estrutural, racionalização do uso de materiais e etapas construtivas, e eficiência energética com aproveitamento de recursos naturais. Tudo isso foi feito durante a construção de uma residência, que serviu como modelo de aprendizado prático e como demonstração de resultados visíveis. “Para viabilizar os recursos necessários à construção dessa casa modelo, foi estabelecida parceria com um antigo cliente da cooperativa, enquanto os recursos da FAPERJ viabilizaram o aprendizado de cogestão executiva e financeira de recursos públicos e a assessoria técnica especializada para o processo contínuo de formação dos trabalhadores no canteiro de obras e em visitas técnicas”, explica Flávia.

Com esse aprendizado coletivo, a cooperativa teve uma profunda modificação em sua forma de atuação profissional, incorporando efetivamente os conceitos, técnicas e procedimentos aprendidos, o que se refletiu em melhores ganhos financeiros e condições de trabalho e renda para os trabalhadores. “Os trabalhadores da cooperativa podiam, a cada etapa do processo, verificar os resultados alcançados em termos de qualidade e das condições de trabalho, com uma significativa redução do desgaste físico e num ambiente de trabalho mais saudável, limpo e agradável. E ainda conquistaram um diferencial em termos de sustentabilidade nos processos construtivos, associado ao reconhecimento de sua experiência no mercado”, afirma Flávia.

Nóbrega também enumera os inúmeros benefícios obtidos com o projeto. “Mudou completamente o sistema de trabalho do grupo, possibilitando redução do tempo, da quantidade de mão de obra e do material empregado em 30% a 40%. O volume de entulho gerado também foi reduzido em até 80%. E o trabalho ficou mais leve por se tratar de blocos de alvenaria, que podem ser montados. Isso trouxe outra vantagem: como Jacarepaguá é uma área de muita umidade, o tijolo puxava a umidade do solo e mais tarde a tinta soltava. Com os blocos de concreto, isso não acontece mais”, afirma Nóbrega. Outro ponto que ele destaca é que, no sistema antigo, se a parede ficava torta, o pedreiro precisava colocar até oito centímetros de massa de emboço para acertar. “Agora o gabarito fica certinho e não há mais esse problema”, complementa.

Uma segunda linha do projeto foi a realização de oficinas teórico-práticas de construção e instalação de protótipos de aquecimento solar de água de baixo custo e de captação e aproveitamento de água da chuva em moradias populares, viabilizada na parceria com a Solarize – Serviços em Tecnologia Ambiental e a Escola Politécnica Joaquim Venâncio (Cetesa/Fiocruz). “Além dos trabalhadores da Constrói Fácil, essas oficinas envolveram associações, cooperativas, escolas e movimentos populares”, cita Flávia. Um exemplo foi o Grupo Esperança, apoiado pela União por Moradia Popular do Estado do Rio de Janeiro, que está erguendo, em mutirão, 70 unidades habitacionais num terreno na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, nas proximidades do CFMA. “Na primeira casa construída ali, realizamos oficinas com o grupo para a construção e instalação dos dois sistemas, além de um aquecimento solar de baixo custo para os chuveiros do barracão da obra”, explica Flávia.

O custo da instalação de um sistema de aquecimento solar de baixo custo – atualmente de R$ 500 por família para um equipamento de 310 litros – se paga em seis a oito meses pela economia na conta de luz. “E a família ainda pode adquirir o material necessário aos poucos, já que ele pode ser encontrado em qualquer loja de construção”, afirma Nóbrega. E Flávia ainda destaca que essas tecnologias trazem maior qualidade de vida, menor impacto negativo ao meio ambiente e redução de gastos com luz e água.

Por todas essas vantagens, atualmente o Grupo Constrói Fácil está empregando o que aprendeu na construção de cerca de 30 moradias na região de Jacarepaguá e há uma lista de espera de clientes interessados. Além disso, o grupo continua a participar de projetos relacionados a tecnologias sustentáveis para casas populares, como o sistema de tratamento de esgoto doméstico residencial com uso de fossa verde, que conta com financiamento da Fiocruz. Para projetos sustentáveis como esse, que também contribuem para a autonomia e a qualificação profissional de grupos populares organizados, o meio ambiente agradece.


Fonte -Faperj

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