O País que recebe a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que começa no dia 13, é um dos líderes em construção de empreendimentos sustentáveis no mundo. O Brasil ocupa a quarta colocação, segundo o Green Building Council (US GBC), organização não governamental que auxilia no desenvolvimento da construção sustentável.
De acordo com o órgão, até abril deste ano, foram certificados 51 edifícios no Brasil, sendo nove deles no Rio de Janeiro. E ainda há outros 474 em fase de certificação, sendo 81, no Rio.
Para ser considerada uma construção sustentável o empreendimento precisa obter o certificado Leed (Leadership in Energy and Environmental Design). De acordo com o gerente técnico do GBC Brasil, Marcos Casado, o certificado leva em conta questões como eficiência energética, uso racional da água, qualidade ambiental interna e espaço sustentável. A expectativa de Casado é que até o final deste ano o número de edifícios em certificação alcance entre 650 e 700 no País.
“O maior conhecimento das construtoras sobre os benefícios do conceito tem feito o mercado crescer exponencialmente nos últimos anos. Hoje, mais de um empreendimento brasileiro entra com pedido de certificação por dia útil”, revelou.
Segundo o GBC Brasil, um edifício com selo Leed tem redução dos custos operacionais e pode ter valorização, além do reconhecimento da organização na aplicação dos conceitos relacionados a sustentabilidade, um grande diferencial de marketing. No entanto, a construção de um prédio sustentável deixa o empreendimento entre 2% a 7% mais caro. Marcos Casado assegura que a redução dos custos operacionais garante a viabilidade dos projetos.
“É muito viável. Com a redução dos custos operacionais, esse empreendimento rapidamente se paga. O consumo de energia é 30% menor, há também redução de até 50% no consumo de água, de até 80% nos resíduos, além de uma valorização de 10% a 20% no preço de revenda e da redução média de 9% no custo de operação durante toda a sua vida útil” conta.
Entretanto, Marcos Casado ressalva que, prédios com nível de emissão de gases do efeito estufa zero, ainda não existem no Brasil. Em alguns países, já existem prédios autossustentáveis, com geração da própria energia que consomem e neutralizam o carbono emitido. “Para o mercado brasileiro, ainda serão necessários alguns anos para alcançar esse nível”, projeta Casado.
Conforto – Segundo o gerente da GBC Brasil, um prédio sustentável não leva em conta apenas aspectos relativos à melhor utilização dos recursos. Há também uma preocupação com o conforto para as pessoas que vão trabalhar ou morar no edifício. João Marcello Gomes Pinto é sócio-diretor da Sustentech, empresa especializada em consultoria para realização de construções sustentáveis. Ele conta que nesses edifícios há uma preocupação em deixar o ambiente mais confortável e não existe aquela situação típica de escritório em que uns reclamam do frio excessivo e outros do calor.
“O prédio sustentável inclui a setorização dos sistemas de iluminação e refrigeração. Ou seja, há uma preocupação em distribuir o frio do ar condicionado de forma uniforme. O aparelho também tem filtros e conta com sistema de renovação do ar para evitar doenças respiratórias. As lâmpadas que estão próximas às janelas podem ficar apagadas e apenas as que estão no fundo ficam acesas”, explica o sócio-diretor da Sustentech.
Tendência – Embora haja uma crescente preocupação em construir prédios sustentáveis, essa tendência ainda está limitada a edifícios de órgãos públicos ou comerciais, admite Marcos Casado. No Rio de Janeiro, os prédios das empresas Vale S.A. e do Banco do Brasil estão em processo de certificação. Na Barra, a Cyrela está erguendo um centro empresarial com quatro edifícios também em fase de pré-certificação, que deve ficar pronto no final do ano.
Além disso, estão sendo certificados com o selo de sustentabilidade 12 estádios para a Copa do Mundo de 2014. Segundo o gerente técnico do GBC Brasil, “este público (de clientes corporativos) está mais acostumado em fazer a conta no final do mês e não se importar em pagar um pouco mais caro pelo imóvel, pois sabem que o custo operacional será menor e compensará este investimento inicial um pouco maior”.
Mas, para João Marcello Gomes Pinto, empresas multinacionais são as que mais buscam prédios sustentáveis. Mas ele espera um crescimento no setor residencial nos próximos anos.
“Essa tendência chegou a edifícios comerciais antes porque as multinacionais começaram a se instalar no Brasil. Elas já têm edifícios assim em suas sedes e queriam isso também no País. Hoje dificilmente uma incorporada lança um comercial que não seja sustentável. Depois vieram os shoppings, que descobriram que esse tipo de edificação traz vantagens com economia de água e energia. Nos residenciais era mais difícil convencer os moradores a pagar até 7% mais caro, para ter um certificado. Mas para os próximos três anos, a tendência é que haja um boom”, aposta Gomes Pinto.
Fonte -Fonte: O Fluminense / Bruno Uchôa