NOVA ALTA DE JUROS DEVE AFETAR PAPÉIS DE VAREJO E CONSTRUTORAS

A perspectiva de uma nova alta de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira (29/05) deve afetar o desempenho de papéis de construtoras, empresas do setor de varejo e de infraestrutura, na avaliação de analistas. O impacto negativo sobre as ações ganha ainda mais destaque num cenário em que o Ibovespa, principal índice do mercado, acumula queda de 7,46% no ano. Especialistas preveem ainda novas altas da taxa básica de juros para combater a inflação. Até o começo de 2014, a taxa — atualmente em 7,5% ao ano — pode chegar até a 8,75%, de acordo com as apostas de economistas do mercado financeiro. Para a reunião desta semana, o mercado ainda está dividido entre a possibilidade de uma alta de 0,25 ponto percentual ou de 0,5 ponto percentual.

Antes mesmo do início do ciclo de alta da taxa básica em abril, os custos elevados já prejudicavam a performance de construtoras na Bovespa, imersas em dificuldades operacionais agravadas por gastos crescentes com mão de obra e materiais. Enquanto a inflação permanece acima do centro da meta, de 4,5% ao ano, a renda disponível dos consumidores permanece apertada e não está descartada a hipótese de uma elevação dos juros do financiamento imobiliário, segundo analistas.

Neste quadro de dificuldades para o setor, as construtoras listadas no Ibovespa perderam R$ 4,6 bilhões em valor de mercado neste ano. Algumas das principais empresas registram perdas acentuadas na Bolsa: a MRV ON (ações ordinárias, com direito a voto) acumula queda de 44,7% de janeiro a maio. Já a Brookfield ON acumula desvalorização de 36% no período.

— Se o investidor estiver apostando em alta de juros, vale a pena reduzir a exposição ao setor imobiliário — destaca Gabriel Ribeiro, da Um Investimentos.

Capacidade de consumo:

Com exposição direta ao consumidor e ao crédito, varejistas também podem ter a performance prejudicada no curto prazo com a elevação de juros, segundo analistas. Esse tipo de preocupação afeta principalmente varejistas de vestuário como Hering e Renner, que acumulam valorização de 5,1% e de 2,3%, respectivamente, de janeiro a maio. De outro lado, economistas argumentam que, apesar dos efeitos negativos no curto prazo para os papéis do setor, o varejo é um dos principais beneficiados pelo controle da inflação, já que a escalada de preços limita a capacidade de consumo.

— Se os produtos encarecem demais, as pessoas não conseguem comprar. Então, em prazo maior, o controle da inflação é benéfico também para o varejo — avalia Guido Chagas, economista da Humaitá Investimentos.

Ricardo Corrêa, diretor de análise da corretora Ativa, destaca que o setor de infraestrutura, com empresas do setor elétrico e telefônicas, também deve sair prejudicado. Consideradas boas pagadoras de dividendos, companhias desse segmento perdem parte da atratividade que ganharam com o declínio dos juros. A alta da taxa básica melhora a renda fixa e os dividendos podem perder vantagem comparativa. Com um fluxo menor de compras destes papéis, fica limitado o espaço de valorização.

Mas há exceções na seara de infraestrutura. Chagas, da Humaitá, acredita que concessionárias de rodovias sofrerão com um custo maior para financiar investimentos e para repassá-lo ao consumidor. Mas avalia que o governo vai compensar essas empresas com incentivos e com taxas de retorno mais atraentes em novas concessões.

Recomposição de margens:

De outro lado, os bancos são citados como os principais beneficiários no caso de um aumento da Selic. A taxa é a referência para os juros cobrados em empréstimos entre bancos e também é usada para investimentos em títulos públicos, que ajudam a girar o caixa das instituições financeiras. Por isso o crédito concedido a clientes também sairá a custos maiores, o que contribui para aumentar o lucro dos bancos. Não à toa os quatro representantes do setor no Ibovespa ganharam neste ano cerca de R$ 34,4 bilhões em valor de mercado até a última quinta-feira.

Analistas só ressalvam que o investidor deve ficar atento ao comportamento da inadimplência dos clientes, um fator que pode consolidar a valorização das ações do setor ou empurrá-las para direção contrária.

— Estou otimista com o setor bancário. Acho que o movimento de alta de juros deve ajudá-lo a recuperar a performance que ele perdeu no ano passado. Pode ajudar a recompor margens de lucro — disse Bruno Gonçalves, analista da corretora Alpes.

Seguradoras também podem ser beneficiadas pela elevação da Selic, destaca Guido Chagas, economista da Humaitá Investimentos. Isso porque as empresas reinvestem o montante arrecadado com seguros. A Selic mais alta favorece o rendimento dessas aplicações.


Fonte -Fonte: O Globo / Daniel Haidar

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