MUDANÇA NO CÁLCULO DO PIB REDUZ PARTICIPAÇÃO DA INDÚSTRIA NA ECONOMIA

A participação da indústria de transformação na economia brasileira é menor do que se imaginava. A mudança no cálculo do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas no País) promovida pelo IBGE deu ao setor industrial uma fatia de apenas 10,9% da economia nacional. Sem as alterações de metodologia das contas nacionais, a participação estaria em 12,7%.

O cálculo faz parte de um estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que confirma a forte deterioração do setor nos últimos anos. “A queda da indústria traz consequências graves para todo o País. O setor é um estimulador do crescimento e um multiplicador da renda”, afirma José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp.

A perda de participação da indústria na economia escancarou um descompasso econômico. O setor tem uma baixa representatividade num cenário no qual o PIB per capita brasileiro ainda é mediano. Ou seja, o País ganhou uma característica de economia madura antes da hora. Normalmente, ao se desenvolverem, os países enfrentam processos de desindustrialização, mas com um nível de renda mais elevado.

Ranking. O levantamento da Fiesp também analisou o tamanho do setor industrial em 20 países, além do Brasil, com renda per capita de mesmo nível. Com base nos dados disponíveis de 2013, o resultado mostrou que a fatia da indústria brasileira é uma das menores do mundo.

Há dois anos, a fatia da indústria de transformação era de 11,5% do PIB, mesmo nível observado no Chile e superior apenas à da Grécia (8,5%). Os países com maior participação do setor industrial foram Tailândia (32,9%), China (31,8%) e Coreia do Sul (31,1%). “Até a crise de 2009, a indústria brasileira conseguia manter uma certa participação no PIB porque as exportações de manufaturados estavam num nível razoável. Depois da crise, a indústria não se recuperou mais e começou a cair vertiginosamente”, diz Nelson Marconi, coordenador executivo do Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).

O desempenho ruim do setor ficou mais evidente depois da crise internacional porque a demanda por produtos manufaturados brasileiros diminuiu nos principais mercados de exportação, como Europa e Estados Unidos, afetados diretamente pela turbulência internacional. Na época, o câmbio também se valorizou e elevou a perda de competitividade do setor.

“A taxa de câmbio se valorizou até 2012. A balança comercial do setor de manufaturados piorou muito nesse período, o que afetou muito a indústria. As medidas que o governo adotou para estimular a indústria foram na verdade atendidas em boa parte pelos importados”, afirma Marconi.

No dia a dia das empresas, a perda de participação da indústria se traduziu em ajustes. A Fiamm, empresa de autopeças que produz e importa buzinas, chegou a ter três turnos de funcionários – no auge de vendas para o setor automotivo. Hoje, tem apenas um. “Em 2013, tivemos um pico de volume, mas já havia uma influência de importados. Este ano o volume está uma tragédia”, afirma Josué Leite de Paula, diretor-geral da empresa

Por ora, a projeção da Fiesp é que a indústria de transformação continue perdendo participação em 2015. A entidade estima que o setor deverá responder por 10,6% do PIB.

O setor lida com uma combinação perversa: aumento no custo de energia, juros elevados e crédito mais restrito, além do desaquecimento geral da economia, que reduz a demanda por produtos industriais. “Nesses primeiros quatro meses de 2015, a situação está crítica. O volume está muito abaixo do ano anterior, que já foi menor do que o de 2013. Se comparar 2015 com 2013, há uma queda de quase 30% nos volumes pedidos”, afirma Edson Furlanetto, presidente da fabricante de autopeças Kostal.


Fonte -Fonte: Folha de S. Paulo

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