O consumo residencial de energia elétrica no Brasil ainda se encontra em um patamar relativamente baixo se comparado ao de outros países. A explicação para isto está, em grande medida, no nível de renda da população brasileira.
Assim, sempre que se observa, por um lado, aumento na renda da população — especialmente quando associado a sua melhor distribuição — observa-se, por outro, elevação no consumo de energia elétrica nos lares nacionais.
De fato, seja no período do Plano Cruzado, seja durante o Plano Real, e especialmente no período mais recente, quando a economia brasileira vem apresentando crescimento sustentado, com reflexos na expansão do emprego e da renda, é possível verificar a ocorrência de ciclos de expansão do consumo residencial de energia elétrica.
Com relação ao período mais recente, o cenário geral de inflação controlada e a expansão da oferta de crédito, que tem propiciado condições de financiamento aceitáveis para a maioria da população, também contribuem para o aumento do consumo residencial de energia elétrica, decorrente do maior acesso a bens e serviços domésticos.
De acordo com a última edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) elaborada pelo IBGE, em 2009, 95,7% dos domicílios brasileiros tinham televisão, 93,4% tinham geladeira e 44,3% tinham lavadora de roupas.
Além destes eletrodomésticos constantes da PNAD, é possível constatar expansão nas vendas de equipamentos em geral, como condicionadores de ar, computadores, telefones celulares etc. É verdade que muitos desses equipamentos têm sido ofertados ao mercado em versões progressivamente mais eficientes em termos do consumo de energia.
Porém, o crescimento da renda e da oferta do crédito possibilitam, muitas vezes, a substituição dos equipamentos existentes por modelos de maior porte e potência, e a aquisição de novos, contribuindo para o aumento da posse média, com o conseqüente aumento no consumo.
Em qualquer caso, parte do ganho de eficiência é consumida com aumento do conforto e do uso dos serviços oferecidos por tais equipamentos, o que significa que não haverá necessariamente redução no consumo de energia, ou pelo menos não na proporção que poderia sugerir o aumento da eficiência.
Cada residência brasileira já consumiu, em média, algo como 180 kWh/mês. Isso se deu até o racionamento vivenciado em 2001, quando o consumo médio mensal despencou para 130 kWh.
O espanto se justifica porque uma casa de dois cômodos, mais uma cozinha e um banheiro, equipada com uma simples geladeira de uma porta, uma televisão, um ferro elétrico, um chuveiro elétrico e três
lâmpadas eficientes, consome em média 100 kWh/mês.
Aliás, foi pouco maior que isso o consumo médio mensal de uma residência na região Nordeste em 2010. Desde o racionamento, e principalmente nos últimos anos, pelas razões expostas, esse consumo vem subindo progressivamente, chegando hoje, em termos médios nacionais, a 155 kWh/mês.
Não obstante o quadro descrito, que indica haver, por um lado, um grande potencial de crescimento do consumo de energia elétrica nas residências, devido ao efeito renda mencionado, há, por outro lado, potencial para reduzir parte deste consumo, ou, em outras palavras, o seu ritmo de crescimento.
Uma das possibilidades é o uso de aquecedores solares híbridos de água para banho, que combinem as vantagens do aquecimento solar direto da água com as vantagens do chuveiro elétrico.
Apenas para efeito de raciocínio, tome -se como referência a região Sudeste, onde, de acordo com pesquisa realizada pela Eletrobras/Procel (2005), 91% das residências aquecem água para banho usando o chuveiro elétrico, sendo que, desse universo, apenas 7% o mantêm desligado, independentemente da estação do ano (isto é, preferem sempre o banho frio).
Considerando outras informações úteis dessa pesquisa (como posição de chaveamento em que se usa o chuveiro “inverno” ou “verão”) e a potência do chuveiro em cada uma dessas posições, e fazendo ainda suposições complementares, como número de banhos por dia, número de pessoas na residência, duração média de um banho, número de horas (ou dias) de insolação por ano, pode-se calcular um potencial de economia de energia por residência de 33 kWh/mês se um aquecedor solar híbrido fosse usado em substituição aos chuveiros elétricos do domicílio.
O valor calculado equivale a uma redução de 19% do consumo médio mensal de uma residência na região Sudeste, que corresponde a uma economia de R$ 9,20 na conta de energia elétrica.
É verdade que não seria possível substituir todos os chuveiros elétricos da região Sudeste. Há dificuldades de toda ordem: unidades residenciais que não estão preparadas para outro tipo de aquecimento de água e restrições de espaço para instalação de coletores solares e reservatórios térmicos são exemplos de algumas dessas dificuldades.
Mas, admitindo que 20% das residências da região Sudeste que usam chuveiro elétrico para aquecimento de água pudessem substituí-lo por um aquecedor solar híbrido, estima-se que a energia total economizada seria equivalente à geração anual de uma usina hidrelétrica com 400 MW de capacidade, ou a investimentos em geração de energia de R$ 1,4 bilhão.
Nesse cenário, seriam evitadas emissões de 1,3 milhões de toneladas de CO2 por ano (na equivalência com as emissões de uma termelétrica a gás natural).
Fonte -Fonte: EPE