Ainda é cedo para interpretar os dados econômicos referentes a julho como uma catástrofe, mas eles não são pontuais e marcam o início de um terceiro trimestre mais fraco para o Produto Interno Bruto (PIB). A avaliação é de Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Na edição de agosto do boletim, divulgada antecipadamente ao Valor, Silvia projeta que, após alta de 0,6% no segundo trimestre ante o primeiro, feito o ajuste sazonal, o PIB vai crescer apenas 0,2% entre julho e setembro, levando em conta informações já disponíveis até o momento.
Segundo a economista, pelo lado da oferta, a desaceleração será puxada principalmente pela indústria – que teve no segundo trimestre seu auge no ano – e pela agropecuária, que deve mostrar comportamento negativo depois de dois trimestres seguidos de impacto das supersafras. Pela ótica da demanda, Silvia vê enfraquecimento do investimento e, em menor grau, do consumo das famílias. “Os serviços podem ajudar o PIB do terceiro trimestre a não ser negativo, mas não descarto esse risco.”
Para a coordenadora do Boletim Macro, boa parte da expansão observada na primeira metade do ano se deveu a fatores temporários: a indústria teria sido influenciada pela produção de bens de consumo duráveis e de bens de capital, dois segmentos que contam com incentivos do governo. As safras recordes também impulsionaram o PIB agropecuário, enquanto, do lado da demanda, o investimento foi afetado pelos juros reais negativos de linhas de financiamento do BNDES para a aquisição de máquinas, equipamentos e caminhões, após um longo período de projetos represados.
A partir do segundo semestre, avalia Silvia, esses estímulos não surtirão mais tanto efeito e o crescimento deve voltar a seu padrão estrutural mais modesto. “Essa tem sido a toada do governo Dilma: o crescimento potencial parece mais baixo, mas com momentos de sobrevida por questões transitórias”, afirma a economista do Ibre, para quem não há uma tendência clara de retomada industrial, mesmo depois do avanço de 1,6% do PIB do setor, previsto para o período de abril a junho.
Com base nos indicadores antecedentes já conhecidos de julho, a estimativa preliminar do instituto da FGV é de retração moderada da produção ante o mês anterior. Silvia observa, porém, que sua perspectiva de crescimento praticamente estável no terceiro trimestre não é fundamentada somente nos resultados do mês passado, que foram mais afetados pelas manifestações: os dados de confiança, de emprego e de produção indicam que os dois meses seguintes também podem ter desempenho ruim.
Calculado pela FGV, o índice de confiança agregado de quatro ramos da economia caiu no mês passado ao menor nível desde julho de 2009, com destaque para o recuo de 6,4% no indicador de serviços e de 4% no da indústria. A confiança do consumidor também diminuiu 4% na comparação mensal. Se o mau humor generalizado não for revertido nos próximos meses, os analistas do Ibre afirmam que o desânimo de empresários e consumidores pode intensificar ainda mais a perda de fôlego esperada para a atividade no segundo semestre.
Do lado empresarial, aponta Silvia, as expectativas mais pessimistas podem contaminar as intenções de investir e frear contratações, enquanto, para o consumidor, as incertezas podem elevar a cautela em relação a compras de maior valor, num contexto de mercado de trabalho em desaquecimento e ganhos reais menores. Além da demanda das famílias, acrescenta Silvia, esses dois fatores também prejudicam o avanço dos serviços, setor que responde por quase 70% do PIB e, no momento, passa por uma desaceleração estrutural.
Diante desse cenário, a coordenadora do boletim do Ibre acredita que são maiores as possibilidades de expansão inferior a 2% do PIB em 2013, previsão que, por ora, prefere manter. “Se continuarmos nesse ritmo, sem grandes surpresas negativas, é o crescimento que os dados estão mostrando.”
Fonte -Fonte: Valor Econômico