GESTÃO DA OBRA: REEQUILÍBRIO URGENTE

A avaliação do estágio atual dos projetos de edifícios para assegurar o desempenho ao longo da vida útil e contribuir com a racionalização e elevação da produtividade tem sido objeto de debate em vários ambientes da construção civil.
De um modo geral, nossos projetos deixam lacunas importantes do ponto de vista de soluções tecnológicas para atender requisitos de desempenho, para assegurar a construtibilidade e a produtividade no processo produtivo.

As reclamações de empresas construtoras sobre as deficiências dos projetos decorrem da constatação de problemas de várias naturezas que se manifestam durante a execução da obra e após a entrega, causando atrasos, custos, patologias, insatisfação dos clientes finais e comprometimento da vida útil com custos pós-entrega significativos.

Por sua vez, as empresas de projeto reclamam das formas de contratação, remuneração incompatível com as responsabilidades que lhes são exigidas e planejamento e coordenação do desenvolvimento dos empreendimentos, entre outros aspectos da forma de organização do mercado.

Sem julgamento de valor sobre as partes envolvidas, é preciso atuar corajosamente com mudanças da estrutura de mercado que gera estas condições.
Em primeiro lugar, faltam-nos mecanismos regulamentares adequados para que riscos e responsabilidades sejam compartilhados de forma equilibrada no mercado.

Os mecanismos como seguros de responsabilidade civil, seguro desempenho, certificação de desempenho, seriam auxiliares para depurar o mercado, de modo a induzir que os projetos não apresentem problemas tão precocemente. Depurar o mercado significa ter exigências que permitam a permanência no mercado somente de profissionais com o conhecimento necessário, o que induzirá à busca de capacitação.

Por outro lado, um reequilíbrio das relações entre projeto e incorporação/construção passa necessariamente por uma revisão na atividade de projeto sob a ótica dos efeitos sobre os empreendimentos, numa revisão completa e detalhada das lacunas de conhecimento que as empresas de projeto apresentam para a realidade atual dos empreendimentos e nas relações contratuais.

Por sua vez, o conhecimento de quem contrata o projeto e de quem coordena é fundamental para que as decisões como contratante privilegiem a boa arquitetura e a boa engenharia, sinalizando que quem tiver a capacitação necessária é valorizado por isso.

Novas formas de remuneração de projeto são urgentes. A lógica do desenvolvimento de projeto nada tem a ver com o custo da obra, e o preço de qualquer produto ou serviço precisa ser formado a partir dos seus insumos que, neste caso, são basicamente horas e conhecimento técnico. E os riscos e responsabilidades precisam ser devidamente valorados.

Mas o mais importante é que sejam estruturadas ações eficazes para se romper o círculo vicioso de atribuição de “culpas” por uma situação de mercado que precisa de atitude de todos os lados.

* Maria Angelica Covelo Silva é engenheira civil, mestre e doutora em engenharia, diretora da NGI Consultoria e Desenvolvimento.


Fonte -Fonte: Revista Notícias da Construção / *Maria Angelica Covelo Silva

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