ELÉTRICAS AINDA TÊM ROMBO DE R$ 2,5 BILHÕES

Mesmo com ajuda ao setor, que só deve durar até maio, distribuidoras podem ter perdas com alta de custo.

Mesmo com o socorro de R$ 11,2 bilhões negociado pelo governo, as distribuidoras de energia estimam que ainda terão perdas da ordem de R$ 2,5 bilhões até o fim do ano devido aos custos deflagrados pela crise do setor elétrico.

A projeção inclui gastos da ordem de R$ 1 bilhão com a compra de energia no mercado à vista de 350 MW. Além disso, as distribuidoras estimam um total de R$ 1,5 bilhão referente à diferença entre o valor que recebem pela venda de energia e o que desembolsaram para comprá-la no leilão. Para agravar a situação, cálculos da PSR Consultoria indicam que a ajuda bilionária recebida pelas distribuidoras só será suficiente para cobrir as despesas até maio. O socorro de R$ 11,2 bilhões foi feito por meio de um empréstimo tomado junto aos bancos pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Algumas distribuidoras só terão reajuste no segundo semestre e, na prática, podem sofrer com o descasamento entre custos mais altos e dificuldade para recompor tarifas. — Há um descasamento entre os contratos de curto prazo e o reajuste anual de tarifas. Se não houver novo socorro, as distribuidoras terão que elevar seu endividamento ou usar recursos próprios para honrar a compra de energia. Se usarem recursos próprios, possivelmente postergarão investimentos previstos, o que pode levar a uma queda na qualidade do serviço — afirma Priscila Lino, sócia da PSR, que fez a projeção sobre o socorro. Light e Elektro são algumas das empresas que estão nessa situação. O reajuste anual de tarifas da Light é apenas em novembro, e o da Elektro é em agosto, segundo a PSR. Em nota, a Light admitiu que a previsão de investimentos pode ser comprometida. “A Light tem uma situação semelhante a de todas as outras distribuidoras e, se o cenário perdurar, compromete o plano de investimentos da empresa”. A empresa frisa, porém, que “o governo federal está sensibilizado e busca soluções para equacionar esta situação”. A distribuidora paulista Elektro garantiu, em nota, que prevê continuidade em seus planos de investimento “bem como a melhoria contínua do serviço oferecido a seus clientes”.

Na avaliação de especialistas, o cenário deve levar a novas pressões para aumentos na conta de luz e pode contribuir ainda para uma queda na qualidade do serviço. A necessidade de uma solução urgente para a crise do setor foi a principal reivindicação de uma carta entregue pelo Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase), que reúne 15 associações, ao governo. O Fase adverte que os problemas enfrentados pelas distribuidoras poderão inviabilizar as companhias e resultar na perda da qualidade dos serviços. Especialistas também preveem novas pressões para aumentos na conta de luz. — O serviço da distribuição está muito ruim. Certamente, o governo vai impor metas para os indicadores que medem a qualidade do serviço. E isso pode exigir novos investimentos das empresas, o que deve pressionar ainda mais as tarifas — avalia Roberto Araújo, diretor do instituto Ilumina. Contudo, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, descarta riscos de perda de qualidade. Ele garantiu que os problemas das distribuidoras foram mitigados com o empréstimo e com o leilão da semana passada, que resultou na contratação de 2.046 MW. — Absolutamente, não (há perda da qualidade dos serviços). As distribuidoras de fato estavam numa situação crítica. Mas o empréstimo veio para mitigar isso — disse Rufino, destacando que não há necessidade de novos aportes para o setor. —Para toda exposição (compra de energia no mercado à vista) a solução é a que está aí, do empréstimo. Mas se esse volume não for suficiente vai se buscar uma complementação para cobrir.

Rufino informou que até o momento já foram gastos cerca de R$ 7,7 bilhões do empréstimo. Ele avalia que, a partir de agora, o valor será decrescente.

Risco de racionamento de 3,7%:

O presidente do Fase, Mário Menel, explicou que o documento tem medidas a serem adotadas de imediato e outras no longo prazo para a melhoria do setor. — O objetivo nosso não foi destruir ou divergir do que existe, mas a evolução da situação hidrológica, financeira e econômica do setor elétrico exige adaptações, ter uma dinâmica. Nossa agenda visa aprimorar o modelo e não destruí- lo — destacou Menel. Em nota, o Ministério de Minas e Energia informou ontem que o risco de falta de energia na região Sudeste é de 3,7% neste ano, de acordo com simulações feitas pelo governo com base em 81 séries históricas. Em maio de 2001, quando houve racionamento, o índice era de 24,7%. Na região Nordeste, o risco é zero, segundo essas projeções, contra a taxa de 44,4% nesta mesma época do ano em 2001. O risco mínimo do sistema é de 5%. Entre 2015 e 2018, o risco do déficit de energia é de 4%, nas regiões Sudeste/ Centro-Oeste. No Nordeste o risco é de 0,4%. A nota foi divulgada após a reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico. Segundo o ministério, os percentuais estão dentro do critério de planejamento.


Fonte -Fonte: O Globo / Ramona Ordoñez, Danielle Nogueira e Geralda Doca

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