DE OLHO NO GÁS, ELÉTRICAS SE INTERESSAM POR LICITAÇÃO DE BLOCOS EXPLORATÓRIOS

12ª Rodada de Licitações ofertará 240 blocos de petróleo e gás natural convencional e não convencional

Sem conseguir viabilizar projetos termelétricos por falta de gás natural, algumas empresas do setor elétrico se interessaram e conseguiram habilitação para participar da 12ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, que acontecerá entre os dias 28 e 29 de novembro. Copel, Eneva, GDF Suez Energy Latin America Participações e até a comercializadora Tradener foram habilitadas a participar da concorrência, que envolve a exploração de petróleo e gás convencional e não convencional. As concessionárias, com exceção da GDF Suez, foram habilitadas como não operadoras, o que indica que elas precisam participar de consórcios. A licitação ofertará 240 blocos exploratórios em sete bacias sedimentares, sendo 110 em áreas de novas fronteiras nas bacias do Acre, Parecis, São Francisco, Paraná e Parnaíba; e 130 em bacias Maduras do Recôncavo e de Sergipe-Alagoas.

Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, o projeto da atual Eneva, em parceria coma Petra e a OGX, na bacia do Parnaíba se tornou um sucesso. “Eles estão conseguindo fazer lá uma planta para gerar 1,4 GW. Então, ali, apesar da monetização do gás ter sido baixa, eles vão ganhar dinheiro transformando moléculas de gás em elétron”, apontou o consultor. Além disso, ainda de acordo com ele, as empresas do setor não tem conseguido tirar do papel projetos termelétricos a gás natural, visto que não conseguem contrato de fornecimento com a Petrobras. “As empresas vão ter que correr atrás do gás. Acho que isso está determinando que as empresas elétricas estejam olhando o leilão de gás”, comentou Pires em entrevista à Agência CanalEnergia.

Giovanni Benini Rocha, consultor da Thymos Energia, também aponta que a falta de oferta de gás para as térmicas foi um dos fatores que levou as empresas ao leilão. Ele avalia que como o Brasil tem uma carência grande de infraestrutura de gasodutos, principalmente em bacias que não estão próximas do mercado consumidor, a maneira mais fácil de monetizar esse gás é fazer geração elétrica na boca do poço. “O Brasil tem apenas 10 mil quilômetros de redes de gasodutos. Então, para essas bacias longe dos centros consumidores, a melhor forma de agregar valor ao gás é colocando uma térmica na boca do poço”, analisou.

Rocha diz ainda que algumas dessas empresa tem know how de shale gas e de shale oil, o que a Petrobras não tem. “Então, essa pode ser uma oportunidade para a entrada de novos players”, apontou. Apesar do interesse das elétricas, Pires, do CBIE, afirma ter dúvidas se essas companhias conseguirão arrematar algum bloco ofertado. “O mercado de gás no Brasil está estagnado, a Petrobras detém praticamente toda a rede de gasodutos e, para colocar uma térmica na boca do poço, é preciso ter uma linha de transmissão próxima. Além disso, as térmicas hoje só são acionadas quando os reservatórios estão baixos, o que complica a viabilização de uma usina desse tipo”, comentou.

“Acho que o investimento da Eneva é um case. Repetir aquilo é muito complicado. Acho que existe vontade, mas as barreiras são muitas. Então, duvido um pouco que alguma elétrica vá comprar campos de gás”, completou Pires. Mônica Souza, gerente da Gas Energy, também questiona se o modelo usado na Bacia do Parnaíba pela Eneva – na época MPX – é replicável. Segundo ela, a MPX tinha uma condição muito particular porque ela tinha adquirido contratos de térmicas antigos, vendidos no leilão de 2008, que pagavam muito bem. “Isso favoreceu muito o modelo de negócio possibilitando a monetização do gás a um preço mais baixo, a ponto de ser competitivo com eólica, porque normalmente, isso não ocorre. É uma condição muito particular”, avaliou Mônica.

Para ela, o modelo de térmicas na boca do poço é viável, mas as condições serão diferentes das conseguidas pela Eneva no Parnaíba. “Nesse modelo evita-se o transporte do gás, a distribuição e a negociação com a Petrobras, que é sempre difícil”, disse. Por outro lado, ainda na visão da gerente, existe um risco grande das empresas buscarem gás convencional, que é mais barato, e encontrarem gás não convencional, tendo aí todos os desafios associados a essa exploração. “Inclusive, no Paraná, tem uma camada de basalto que é um desafio para a perfuração de poços”, comentou. Segundo ela, se o produtor encontrar gás convencional e instalar uma térmica em cima do poço, ele ganhará muito em competitividade. Como as empresas do setor elétrico entrarão em consórcio, na visão da especialista, elas vão apoiar outras empresas a estruturarem o negócio, até para miminizar o risco.


Fonte -Agência CanalEnergia / Carolina Medeiros

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