Depois de perder o páreo para a Petrobras na disputa pela Gas Brasiliano Distribuidora, então controlada pela italiana Eni, a Cosan está em negociações para a compra da participação do Grupo BG na Companhia de Gás de São Paulo (Comgás). O grupo Cosan informou que tem mantido conversas com a petroleira britânica, mas que ainda não há um documento vinculante entre as partes. Os ativos são estratégicos, pois complementam o portfólio da Cosan na área de energia.
A Cosan não informa quanto pagará pela fatia da BG, mas o Valor apurou que a transação envolvendo os 60,1% da BG na Comgás está avaliada entre R$ 3,4 bilhões a R$ 3,7 bilhões, e que o ágio da transação ficará em torno até 20%. Procurados, os executivos e acionistas da Cosan não retornaram os pedidos de entrevistas e a BG informou que tudo o que pode ser dito estava na nota onde informa que está em negociações preliminares com a Cosan. Ontem, o valor de mercado da Comgás era de R$ 5,3 bilhões.
Considerada “joia da coroa” das distribuidoras de gás, a Comgás virou alvo de disputa de grandes petroleiras, incluindo a Petrobras, que sempre teve forte interesse por esses ativos, e a Shell, sócia minoritária da Comgás e da Cosan na Raízen.
No ano passado, a Shell, que tem direito de preferência pelos ativos da Comgás, tentou negociar a fatia da BG, mas as conversas não foram levadas adiante, apurou o Valor. Já a Petrobras, que desde 1999 fez movimentos em direção à Comgás, agora está focada na realização dos investimentos para pôr em produção o gigantesco volume de petróleo e gás nas reservas do pré-sal.
A BG, por sua vez, quer concentrar seus negócios em exploração de petróleo e por isso está se desfazendo de ativos no “downstream” para levantar capital para fazer os aportes necessários no pré-sal da bacia de Santos. Ela é a única sócia da Petrobras na região que não se capitalizou por meio dos chineses. A Sinopec comprou parte dos ativos da Repsol e da Galp no Brasil, fortalecendo a estrutura de capital dessas companhias com US$ 12,26 bilhões. A meta da BG é levantar US$ 5 bilhões nos próximos dois anos para colocar de pé investimentos de US$ 22 bilhões no biênio de 2012 e 2013. Para fazer caixa, além da Comgás, a empresa também está vendendo ativos na Austrália.
Desde dezembro do ano passado, a Cosan negocia a compra da Comgás. A empresa de Rubens Ometto procurou a BG quando a Comgás já tinha começado a desenhar um “follow on”, para migrar para o Novo Mercado. Mas antes de prosseguir com o negócio, terá de entrar em entendimentos com a Shell, que tem o direito de preferência na aquisição, já que tem 18,2% na empresa. Os 21,8% restantes estão no mercado.
Em 2011, o volume de gás comercializado pela Comgás totalizou 4,8 bilhões de metros cúbicos, um aumento de 3,8% sobre 2010, de acordo com dados da companhia. Nesse total estão excluídos o gás destinado à termogeração.
A empresa encerrou o ano com receita líquida de R$ 4,1 bilhões, praticamente estável em relação a 2010. O Ebtida (lucro antes do pagamento dos juros, impostos, depreciações e amortizações) ficou em R$ 716,3 milhões, 39,4% inferior a 2010. O lucro líquido no período recuou 59,3%, para R$ 236,1 milhões. A área de concessão abrange 177 municípios.
A venda da Comgás interrompe os planos da BG de se verticalizar no Brasil. A companhia planejava transportar gás produzido no pré-sal da bacia de Santos, onde é sócia da Petrobras nas principais descobertas da região, até a rede de distribuição em São Paulo. O Valor apurou que BG e Cosan estão negociando uma cláusula de preferência para a inglesa nos próximos contratos de aquisição de gás pela Comgás. Hoje o maior supridor é a Petrobras, via Bolívia.
Essa aquisição é considerada estratégica para o grupo Cosan para complementar o seu portfólio na área de energia. Em fevereiro, a Cosan fez oferta pela compra de 49,1% do bloco de controle da América Latina Logística (ALL), ou 5,6% do capital total, por quase R$ 900 milhões. Essas negociações estão em andamento e dependem da aprovação de todos os sócios que compõem o bloco de controle da ferrovia. As apostas do mercado são de que a operação da Comgás seja concluída antes. Segundo informações obtidas pelo Valor, a Cosan deverá recorrer a financiamentos privados para bancar a operação.
A aquisição do controle da Comgás e da concessionária de ferrovias ALL, se confirmados, vão quase triplicar a dívida da Cosan. No último balanço, a companhia informa que sua dívida líquida ajustada era de R$ 2,7 bilhões já inclusos a integralização de R$ 923 milhões da Shell na formação da Raízen. Desse total, R$ 1,48 bilhão são devidos ao BNDES. Se comprar a ALL por R$ 900 milhões e a Comgás por até R$ 3,7 bilhões, a dívida vai saltar para algo próximo de R$ 7,3 bilhões, assumindo-se que a empresa vai se financiar no mercado.
O grupo Cosan decidiu diversificar seus negócios, deixando de ser apenas uma empresa produtora de açúcar e álcool. Tornou-se uma forte distribuidora de combustíveis a partir de 2008, com a compra da Esso no Brasil, que pertenciam a ExxonMobil, e um ano depois, com a joint venture anunciada com a Shell, para a criação da Raízen. O foco agora é se tornar uma gigante de infraestrutura e energia. A Cosan está tocando os dois negócios em paralelo e não quer abrir mão de nenhuma dessas operações.
Na quinta-feira (12/04), as ações da Cosan tiveram a segunda maior queda do Ibovespa. O mercado atribuiu o fato à maior alavancagem do grupo com a operação. No último balanço de resultados, a alavancagem da Cosan estava em 1,3 vezes o Ebtida. Os papéis da Cosan ON fecharam a R$ 32,40, com recuo de R$ 1,10, ou 3,28%, depois de atingir uma mínima de R$ 31,63, baixa de 5,58%. Já a ação ON da Comgás encerrou o dia a R$ 43,40 (alta de 5,85%), enquanto a PNA fechou a R$ 46,15, alta de 1,09%.
Fonte -Fonte: Valor Econômico / Mônica Scaramuzzo e Cláudia Schüffner