CONSTRUTORAS TÊM RESULTADO FRACO E AÇÕES LIDERAM PERDAS NA BOLSA

O primeiro trimestre tem se configurado como negativo para as empresas de construção na bolsa. Após mais uma rodada de apresentação de resultados, as ações do setor aparecem como destaques de queda no pregão de hoje da BM&FBovespa.

Wesley Bernabé, analista do BB Investimentos para o setor, lembra que a evolução dos custos de obras, que vem obrigando a empresas a acelerarem suas revisões de orçamento, é o principal ponto que vem decepcionando o mercado.

Mas não é só o nível de despesa que preocupa. “As empresas também estão com problemas no resultado financeiro e o nível de alavancagem está subindo”, avalia. Como a velocidade de vendas (VSO) vem se reduzindo e os estoques estão em alta, as companhias precisaram tomar empréstimos para compor o capital de giro, destaca o analista.

Para ele, há muita dívida corporativa atrelada a índices de inflação, e não à produção. Por isso, a saúde financeira do setor imobiliário começa a se deteriorar, em sua visão. “O jeito mais saudável de se endividar agora seria por meio do SFH [Sistema Financeiro de Habitação]”, explica.

A maior baixa do Ibovespa foi registrada pelos papéis da MRV Engenharia. O recuo chegou a 15% no fechamento, com cotação de R$ 9,43. O principal índice da bolsa teve queda de 2,3%, a 56,237 mil pontos.
Ontem, a companhia revelou que seu lucro líquido teve queda de 24% frente ao mesmo período de 2011, atingindo R$ 116 milhões entre janeiro e março. Uma média de projeções calculada pelo Valor a partir de estimativas de corretoras mostrava a linha final do balanço em R$ 165 milhões.

Assim como Brookfield, a MRV teve o resultado pressionado pela alta nos gastos. Com revisões de custos de obras, as perdas chegaram a R$ 8 milhões e fizeram o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) cair 4,9%.

Para Flávio Conde, da Banif, “os resultados da MRV Engenharia vieram abaixo das projeções em função dos custos adicionais referentes a um maior volume de contrapartidas a prefeituras e autoridades, gastos adicionais para empreendimentos em fase mais avançada de construção e antecipação dos gastos de assistência técnica para atender clientes no momento de entrega das chaves, além da estratégia de manter as obras adiantadas em relação aos seus cronogramas”.

Ocupando o posto de terceira maior queda, estão as ações da Rossi, que apresentou o balanço hoje. A baixa foi de 7,9%, com os papéis sendo negociados a R$ 5,96.
Além de reportar um recuo de 44% no lucro líquido durante o primeiro trimestre, a construtora ainda informou que está reduzindo sua projeção de entregas para o ano. Agora, ela espera entregar entre 16 mil e 18 mil unidades, contra expectativa anterior de 18 mil a 20 mil.

O Ibovespa também é pressionado pelas baixas dos papéis da PDG Realty, que caem 9,8%, a R$ 3,67, e da Tecnisa, com perdas de 4,3%, a R$ 7,40. A quarta baixa mais relevante, porém, é a das ações da Brookfield, que voltam a cair depois de lideraram o clima negativo ontem e fecharam negociadas a R$ 3,93, recuo de 6%.

A corretora Ativa comenta em relatório, sobre a Brookfield, que a “companhia apresentou números muito abaixo do esperado pelo mercado, surpreendendo negativamente com estouros de orçamentos de obras, cancelamento de vendas, além de um considerável aumento na alavancagem. Além disso, a revisão dos custos dos empreendimentos realizada neste trimestre representa apenas 20% do total dos projetos da empresa, o que traz expectativa de novos ajustes para o próximo resultado”.

Os balanços do setor imobiliário vêm mostrando, em sua maioria, redução nas margens. A margem bruta da PDG, por exemplo, que acompanha quanto da receita se torna lucro operacional, caiu 9,9 pontos percentuais, e a da Tecnisa veio 9,6 pontos menor em 12 meses.

Segundo Bernabé, do BB Investimentos, este ciclo de novas revisões de obras que se iniciou no fim do ano passado está pesando agora. Mas, à medida que novos projetos sejam lançados com rentabilidade maior, e os antigos sejam entregues, o desempenho das imobiliárias deve melhorar.

A única empresa que se destaca no campo positivo é a Cyrela. Seu lucro líquido no primeiro trimestre veio em linha com o esperado pelo mercado, em R$ 118 milhões. Além disso, a incorporadora divulgou alta em sua margem bruta, de 27,4% para 29,5%. Suas ações tiveram queda inferior ao Ibovespa, recuando 0,8% neste pregão, negociada a R$ 14,20.

A companhia é uma que resolveu rever seus gastos no fim de 2010 e mostrou recuperação durante todo o ano passado. Bernabé vê a imobiliária como o melhor investimento do setor dentre as grandes empresas.


Fonte -Fonte: Valor Econômico / Renato Rostás e Daniela Meibak

Compartilhe
Outras Notícias
Newsletter

Cadastre-se para receber nossos informativos.