Os bancos negociam com o governo a ampliação do uso do saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) na compra da casa própria. O principal argumento é permitir ao trabalhador acompanhar a disparada no preço dos imóveis nas grandes cidades.
O dinheiro do fundo só pode ser utilizado na compra de imóveis de até R$ 500 mil, o que nos últimos meses vem restringindo o alcance dos negócios para a classe média.
O valor está congelado desde março de 2009, antes do recente boom imobiliário -até então era R$ 350 mil.
A Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) não quis divulgar o novo limite proposto, mas a Folha apurou que o objetivo é aumentar para R$ 750 mil.
“O FGTS é fundamental porque pode ser usado na entrada [reduzindo o valor do empréstimo] e ao longo do financiamento, ajudando o cliente a quitar a dívida antes”, diz Luiz Antonio França, presidente da entidade.
O pleito foi feito ao Banco Central, que, se concordar, pode levar a proposta ao CMN (Conselho Monetário Nacional), composto também pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Para José Maria Oliveira Leão, superintendente nacional do FGTS, o teto atual ainda “cumpre seu papel” de facilitar o acesso à moradia, garantindo que o sistema financeiro “atenda a um público maior e mais necessitado”.
Por conta da escalada nos preços dos imóveis, o governo já elevou no início do ano o teto das moradias que se enquadram no programa Minha Casa, Minha Vida – de R$ 130 mil para R$ 170 mil.
Um representante do setor imobiliário destacou que a mudança diminuiu o número de clientes em potencial que usariam os recursos da poupança, que tem taxa de juros maior -logo, mais interessante para os bancos.
Outro ponto que deve ser levado em conta é a iminente escassez dos recursos da caderneta direcionados para o financiamento habitacional. Esse segmento do crédito vem crescendo em um ritmo superior ao dos depósitos na poupança, criando a dúvida se seria prudente elevar o número de pessoas que têm acesso a esse montante.
O teto de R$ 500 mil fez o casal Fernando Figueiredo, 38, e Alcione Carrilho, 34, abrir mão de um imóvel de 124 m², que superava esse valor, por um menor (95 m²) no mesmo empreendimento. Ele custou R$ 411 mil, dos quais R$ 113,5 mil provenientes das duas contas do FGTS.
“Como usamos o fundo, não ficamos tão endividados. Com a parcela menor, sobrou dinheiro para reformar”, conta o engenheiro eletrônico.
Fonte -Fonte: Folha de São Paulo / Tatiana Resende