Essa é a escolha que as empresas têm de fazer. Preparadas e empreendedoras, é hora de deixar de tratá-las como minoria
No mundo das empresas, virou obsessão tentar prever que fatores externos se transformarão nas maiores ameaças aos modelos de negócios estabelecidos. Na maioria das vezes, isso não passa de exercício de adivinhação, sem resultado concreto que não seja uma agenda abarrotada de reuniões. O avanço da tecnologia é um suspeito habitual.
As mudanças do mercado, outro. Há também as pressões ambientais, as redes sociais, as bolhas especulativas que surgem quando menos se espera. Mas é provável que nada seja mais poderoso na hora de determinar mudanças do que a demografia. E a demografia, neste agitado início de século 21, parece estar a favor das mulheres.
Não é discurso feminista. É só estatística. Metade da população mundial é formada por mulheres. Elas invadiram o mercado de trabalho em meados do século passado, quando apenas os homens não eram suficientes para levantar uma economia mundial arrasada por duas grandes guerras. Faltava mão de obra. Algo semelhante está ocorrendo.
Agora, porém, faltam cérebros. Segundo um estudo da consultoria Deloitte, hoje mais de 85% da criação de valor das companhias apoia-se em fatores intangíveis, como marca e propriedade intelectual. Não faz o menor sentido eliminar metade do potencial de talento disponível só por machismo.
Alguns números: nos Estados Unidos, 60% dos formados em universidades são mulheres. Metade das europeias que estão no mercado de trabalho passou por universidades. No Japão, as mulheres têm níveis semelhantes de educação, mas deixam o mercado assim que se casam e têm filhos. A tradição joga contra a economia.
O governo credita parte da estagnação dos últimos anos à ausência de participação feminina no mercado de trabalho. As brasileiras avançam mais rápido na educação. Atualmente, 12% das mulheres têm diploma universitário — ante 10% dos homens. Metade das garotas de 15 entrevistadas numa pesquisa da OCDE disse pretender fazer carreira em engenharia e ciências — áreas especialmente promissoras.
Essa realidade vai jogar cada vez mais mulheres para dentro das empresas — ou vai forçá-las a seduzir a mão de obra feminina, uma novidade. Nas últimas décadas, as mulheres foram minoria no mundo dos negócios — em número, em influência, em poder. Minorias dificilmente impõem padrões. Elas se adaptam. E as mulheres se adaptaram — até demais.
Fonte -Exame.com