Sustentabilidade dos fornecedores alavanca negócios de grandes empresas

Gestão sustentável dos parceiros pode até aumentar vendas, entre outros benefícios 

Por trás de grandes empresas existe uma cadeia de partes interessadas que deve funcionar de forma equilibrada para garantir o bom fluxo de suas operações. Um dos principais stakeholders dessa rede são os fornecedores. Um deslize legal ou um acidente ambiental cometido por uma dessas partes, por exemplo, pode acarretar impactos significativos na qualidade dos serviços e produtos e na reputação das organizações. E mais: a gestão sustentável dos parceiros é uma questão de negócio, que pode até melhorar as vendas, segundo pesquisa do Instituto Ethos.

“A questão da sustentabilidade na cadeia se tornou um elemento de sobrevivência e um diferencial competitivo. Não é mais possível pensá-la como algo apartado dos negócios”, analisa Ana Lúcia de Melo, diretora adjunta do Instituto Ethos. Levantamento da entidade aponta que 72% das empresas participantes classificam seus fornecedores por níveis de risco. “Verificamos que existe uma preocupação latente e há cada vez mais iniciativas orientadas a uma melhor gestão dos fornecedores, pois as empresas entendem que são corresponsáveis por todas as atividades envolvidas no ciclo de vida de seus produtos”, afirma Ana Lúcia.

Apresentada a empresários na Firjan, outra pesquisa do Instituto, com 91 fornecedores dos setores de Construção Civil e de Confecção, realizada em um período de 18 meses, reforça que a gestão sustentável dos parceiros pode alavancar os negócios. Além da redução no número de acidentes de trabalho, as vendas aumentaram mais da metade nas empresas que buscaram melhorias nesse sentido.

“Quando a empresa passa a adotar critérios de sustentabilidade, ela diminui os riscos de seu negócio. A cadeia vai consolidando melhores práticas ambientais, de governança e de relações de trabalho, o que fornece maior garantia na qualidade e no fluxo de prestação de serviços. Além disso, tanto as âncoras quanto as fornecedoras aumentam a sua competitividade, ampliando as oportunidades de acesso ao mercado e aos recursos financeiros”, observa Wagner Ramos, analista de Responsabilidade Social da Firjan.

 

Levantamento do Instituto Ethos sobre sustentabilidade na cadeia de valor (setores pesquisados: confecção e construção civil)

Aumento médio das vendas: + 56%

Redução de acidentes no local de trabalho: – 19%

Satisfação do funcionário: + 16%

Redução de resíduos (Kg em média/MPME): – 16%

Redução do consumo de energia (KWH/MPME): – 44%
O grande desafio das empresas, no entanto, é garantir a penetração efetiva dos critérios em toda a sua matriz de fornecedores. “É um trabalho imenso. Nem todos têm noção dessa importância ou não possuem recursos para implementar áreas de sustentabilidade. É necessário capacitação e treinamento”, ressalta Ramos.
Para Carla Pinheiro, presidente do Sindicato das Indústrias de Joias e Lapidação de Pedras Preciosas do Estado do Rio de Janeiro (Sindijoias) e da Associação de Joalheiros e Relojoeiros do Rio de Janeiro (Ajorio), o consumidor também está cada dia mais consciente. “Negócios sustentáveis atraem mais clientes. Quando ele decide comprar um produto, o modo como foi produzido e descartado tem um peso relevante”, frisa.

Apoio da Firjan

A federação, por meio de toda a linha de serviços Firjan SESI SENAI, é parceira nesse desafio, qualificando fornecedores para que estes tenham acesso a melhores possibilidades de execução, conformidade operacional e enquadramento aos critérios exigidos pelas empresas. “Quando a própria âncora assume um papel indutor nesse processo, o êxito costuma ser grande. E com nosso auxílio, apoiamos os seus fornecedores a estarem na conformidade técnica operacional esperada para o melhor cumprimento da obrigação contratual”, acrescenta Carlos Magno, gerente geral de Relacionamento e Negócios da Firjan.

A Enel buscou a expertise técnica da Firjan para apoiar a qualificação de sua cadeia de fornecedores, atenta aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, a respeito de Consumo e Produção Responsáveis e de Cidades e Comunidades Sustentáveis. Cerca de 30 empresas já participaram de palestra de sensibilização sobre o tema.

“Já tínhamos procedimentos que utilizávamos para formação de nossos parceiros e agora estamos propondo uma roupagem nova com um foco técnico, operacional e também sustentável; afinal de contas são os prestadores que instalam e retiram os equipamentos da nossa rede. Eles precisam estar bem preparados para manusear equipamentos de metal, vidro, porcelana e com óleo. E, claro, precisam estar atentos ao seu descarte ambiental adequado”, destaca Allan do Couto Rodrigues, gerente de Logística e Suprimentos da Enel.

Para Rodrigues, é fundamental que os órgãos reguladores tenham a percepção de que a empresa controla e gerencia seus riscos, evitando passivo ambiental, multas e acidentes de trabalho. “Quando uma empresa não controla essas variáveis fatalmente tem maiores riscos trabalhistas e securitários”, reforça.

Novos mercados

A 3C Services é fornecedora da Enel há 20 anos, prestando serviços metrológicos (calibração de equipamentos, medição e recuperação de medidores) e de terreno (corte e religação de unidades consumidoras de baixa tensão e instalação de medidores e disjuntores). Ao longo dessas duas décadas, a empresa teve que se adequar às exigências crescentes da âncora e vê na adoção constante de critérios sustentáveis uma condição sine qua non para se manter no mercado. “É uma força top-down. Ou oferecemos ao cliente um trabalho de excelência máxima ou ficamos para trás”, diz Silas Camilo, diretor presidente da 3C Services.

Visando atender às demandas da Enel, a fornecedora também pretende obter ainda este ano as certificações ISO 14000 e ISO 18000, que garantem práticas de gestão ambiental e de segurança ocupacional, respectivamente. “Em uma licitação, muitas organizações ainda valorizam demais o preço. Mas quando um grupo grande impõe critérios sustentáveis como condição para fechar negócio, isso eleva o padrão. Os fornecedores que já têm essa conscientização saem na frente e os outros buscam se adequar”, sublinha.

Camilo observa ainda que o movimento beneficia outras empresas. “Acabamos tendo acesso a novas oportunidades de negócio e levando o mesmo padrão de qualidade para eles”.

Fornecedores homologados

Situada na Zona Oeste da capital, a Ternium é outra indústria de grande porte a exigir dos fornecedores adequação a regras próprias de qualidade e padronização, que vão além das normas de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) do país. Na prática, todo prestador de serviço, após ser pré-qualificado em uma concorrência, precisa se preparar para atender às normativas da Ternium. Para isso, a companhia montou um sistema de homologação, com quatro instituições que podem ser acessadas pelos candidatos a fornecedor. Desde setembro de 2018, são elas que dão os treinamentos, cursos e demais assessorias necessárias para que o prestador fique apto. Uma das quatro é o Sistema S, com a Firjan à frente desse trabalho no estado do Rio.

“O objetivo é gerenciar melhor os nossos riscos. Temos feito uma estruturação sobre a gestão de SST da empresa para eliminar a possibilidade de acidentes e doenças profissionais. Dessa forma, os números de ocorrências têm reduzido bastante”, pontua Alexander Herbert Spedo, analista de Segurança do Trabalho da Ternium.

Fonte: Firjan

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