A matriz energética brasileira vem abrindo cada vez mais espaço para o crescimento de fontes renováveis, mas alguns segmentos desse mercado ainda buscam novos incentivos para ampliar suas operações no país. É esse o caso do setor de energia solar térmica, que atrai por seus baixos custos, mas ainda enfrenta desafios para consolidar demandas e se firmar como potencial alternativa para diversas áreas da indústria.
De acordo com o presidente do Departamento Nacional de Energia Solar Térmica (DASOL), Amaurício Gomes, as tecnologias solares podem reduzir em até 20% os custos energéticos em processos industriais, valor que alcança a marca de 70% no uso residencial; a adoção em maior volume desse tipo de geração, no entanto, ainda tropeça na falta de incentivos. O setor, que atualmente mantém uma média de R$ 120/MWh, busca aumentar sua participação no programa de eficiência energética da Aneel e requer maiores investimentos por parte do governo.
Segundo Gomes, a abertura de linhas de crédito com foco nos consumidores finais é hoje a maior oportunidade para a expansão do segmento de energia solar térmica. Com novos estímulos, o setor pode ser impulsionado em um momento de boas perspectivas para as fontes renováveis: segundo o DASOL, a geração distribuída no Brasil deve crescer mais 4% até o final deste ano.
Quais são hoje os principais projetos do DASOL?
Os destaques do nosso planejamento hoje são a realização do 4º Congresso Brasileiro de Aquecimento Solar, que será realizado entre os dias 23 e 25 de agosto, o desenvolvimento do programa Qualisol Brasil, que certifica profissionais do setor, e a participação no desenvolvimento de normas da ABNT.
O DASOL propôs ao governo um aumento da participação do setor de energia solar nos programas de eficiência energética da Aneel. Como está hoje esse processo?
O regulamento do PROPEE – Procedimentos para Programa de Eficiência Energética da ANEEL – foi parcialmente ajustado em sua versão de 2013, mas ainda utiliza critérios que não valorizam totalmente o potencial da energia solar térmica. Em uma última consulta informal à agência, fomos informados de que os projetos de aquecimento solar são mais bem enquadrados como projetos especiais ou projetos piloto. Essas são categorias em que os atributos da energia solar térmica podem ter maior foco na redução de carga e do consumo de energia elétrica, com seus ganhos econômicos, sociais e ambientais.
Quais seriam os benefícios desse aumento de participação no programa?
A ampliação da participação traz muitos ganhos, desde a utilização de tecnologia totalmente nacional, com geração de empregos no Brasil, até a redução de demanda e de consumo de energia no ponto de uso. Isso gera benefícios para todo o sistema elétrico de geração, distribuição e transmissão, e também um menor custo de geração, em torno de R$ 120/MWh. Além disso, há o baixo período de amortização, que tem tornado os projetos muito atrativos.
Qual a expectativa de redução de custos com a ampliação da eficiência?
Essa redução de custos com energia é muito atrativa, e varia entre os segmentos de acordo com as possibilidades de substituição da energia tradicional e as características geográficas do estabelecimento. Os percentuais vão de 20% em processos industrias até 70% em serviços e residências.
Como avalia os resultados do leilão de energia de reserva, no último mês de novembro? Foram abaixo da expectativa?
Sob certa ótica – e na avaliação do governo -, os resultados foram favoráveis, com a contratação de um total de 20 projetos de geração de energia eólica e 33 de geração fotovoltaica. O investimento total foi de cerca de R$ 6,8 bilhões nos próximos três anos, com um preço médio de energia fotovoltaica de R$ 297,75/MWh. Contudo, o valor dessas contratações ainda é superior ao da energia solar térmica, de R$ 120/MWh. Isso destacando que a térmica não requer redes de distribuição e transmissão de energia. Esse é o grande desafio do nosso setor para atrair as atenções do governo.
Que novos incentivos o governo pode dar para impulsionar a energia solar no país?
Em 2015, nós preparamos o programa “Um Solar em Cada Casa”, que reúne cinco grandes propostas de políticas de governo com potencial de economia de 124.320 GWh e adição de capacidade instalada de 1.475,2 MW de geração. São elas a aquisição de aquecedores solares com recursos do FGTS, a inclusão no programa de eficiência energética da Aneel, o programa Minha Casa, Minha Vida, a obrigatoriedade do uso de energia solar térmica em novas construções residenciais que se beneficiem de recursos públicos, e uma campanha de incentivo ao uso das tecnologias solares.
Quais são hoje as maiores dificuldades vividas pelo setor?
A principal oportunidade para o setor vencer seus desafios está na disponibilização de linhas de crédito por parte do governo, com foco no incentivo aos consumidores finais.
Qual a perspectiva de crescimento da geração distribuída no Brasil em 2016?
Em termos de energia solar térmica, o Brasil tem atualmente 6.407 MWh/ano, de acordo com o último relatório da Agência Internacional de Energia (AIE). Nós estimamos um crescimento médio de 4% para 2016. Os dados de 2015 ainda estão em fase de pesquisa e tabulação, mas serão divulgados até o mês que vem e devem registrar um aumento similar ao que está previsto para este ano.
Fonte: PetroNotícias