FÔLEGO MAIOR NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Após um crescimento de 2% ano passado, o setor de construção deverá acelerar seu ritmo de produção e registrar alta de 2,8% em 2014, com o emprego formal devendo subir 1,5%, mantendo-se como um dos motores da economia. Projetos de infraestrutura dos setores público e privado estão saindo do papel, o que deverá estimular a carteira de pedidos das empreiteiras, enquanto o crédito habitacional, renda em alta e desemprego em níveis historicamente baixos tornam atrativa a equação do mercado imobiliário. O bom momento coincide com a necessidade de aumento da produtividade, cuja alta foi inferior ao crescimento do emprego formal. Isso traz desafios para as empresas que terão de inovar para atender um mercado mais exigente.

“Os primeiros números deste ano são positivos”, afirma Sergio Watanabe, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP). O número de trabalhadores com carteira assinada, principal indicador do desempenho setorial, subiu 1,19% em janeiro ante dezembro de 2013, com a contratação de 41 mil pessoas, de acordo com pesquisa mensal da entidade. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), o segmento cresceu 5,7% em fevereiro na comparação anual. No acumulado do ano o crescimento é de 3,5%.

“O resultado de vendas neste início de ano é bastante positivo e mantém o otimismo para atingir a previsão de crescimento de 4,5% em relação a 2013”, afirma o presidente da Abramat, Walter Cover. “O setor imobiliário deve crescer, as concessões de infraestrutura começam a sair do papel, mas precisariam ter mais velocidade de implementação. Estamos apreensivos em relação ao crescimento além deste ano”, afirma José Carlos Martins, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

Para 2015, outra dúvida pode prejudicar o desempenho do setor: uma política fiscal mais restritiva, com cortes de investimentos no Orçamento da União. “Ainda está difícil enxergar o próximo ano, mas podemos sofrer o efeito de um ajuste fiscal rígido, o que se torna a grande incógnita após as eleições”, analisa Watanabe.

A infraestrutura deve ser um dos principais motores da demanda da construção pesada. Alguns dos principais clientes das construtoras pretendem investir com vigor nos próximos anos. A Vale, que responde por 4% do PIB nacional, está investindo no maior projeto de sua história: a exploração da Serra Sul de Carajás, no Pará, que prevê o acréscimo de 90 milhões de toneladas anuais de metal à sua capacidade. O projeto, cujo orçamento contempla US$ 19,5 bilhões em investimentos, terá pouco mais de US$ 11 bilhões em recursos direcionados à área de logística, com ampliação da ferrovia e do porto. “Faremos a duplicação de 592 km de trilhos e 100 km de ramais para escoar minério de ferro e os grãos da fronteira do Maranhão, Piauí e Tocantins”, diz o presidente da Vale, Murilo Ferreira.

Em rodovias, o governo licitou no ano passado 4,2 mil km de trechos e se prepara para conceder outros 2,6 mil km este ano, o que deverá estimular pouco mais de R$ 40 bilhões de investimentos ao longo de 25 anos de contratos. Uma parte dos recursos já começa a ser aplicada. A Triunfo, que administrará os 1.176,5 km das rodovias BRs-060/153/262, assinou o contrato de concessão no dia 31 de janeiro de 2014. Na primeira semana de março, assumiu a operação da rodovia.

“Nos primeiros meses, serão realizados investimentos na roçagem, limpeza e melhoria de sinalização de todo o trecho de concessão. Já as obras de duplicação se iniciarão em Minas Gerais. Trabalhamos com o cronograma de 18 meses estipulado pelo governo para início da cobrança do pedágio”, destaca Carlo Alberto Bottarelli, presidente da Triunfo Participações e Investimentos.

Outro segmento que começa a avançar é o de saneamento, em que mais de R$ 10 bilhões em Parcerias Público-Privadas (PPP) começam a sair do papel. “Muitas prefeituras que estão se debruçando sobre seus planos municipais começam a analisar modelagens de atração de capital privado”, afirma o presidente da Águas do Brasil, Cláudio Abduche.

Em fevereiro, a empresa assinou PPP com a prefeitura de Paraty para operar os serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto no município. O investimento será de R$ 85 milhões, nos primeiros quatro anos, e de R$ 145 milhões em 30 anos.

Já o mercado imobiliário deve continuar aquecido pela manutenção do crescimento do crédito habitacional, que nos últimos dez anos triplicou sua participação na economia, chegando a 7,5% do PIB. A relação ainda está abaixo do verificado em outros países. No Chile, está em 20%. “Estamos aquém de outros países, com espaço para crescer”, afirma Alessandro Francisco, professor da pós-graduação da Faap. Hoje cerca de 95% das operações possui como garantia a alienação fiduciária, que proporciona maior segurança ao provedor do crédito, pela maior celeridade no processo de execução da garantia. Devedores com mais de um financiamento representam apenas 2% dos contratos e 5% do saldo das operações.

Os últimos dados do Banco Central indicam que o nível de endividamento em relação ao rendimento anual das famílias ficou em 45,3% em outubro (último dado disponível). Excluindo-se o crédito imobiliário, no entanto, o nível de endividamento das famílias calculado pelo BC é bem menor, de 30%. “O brasileiro tem trocado dívida de curto prazo pela de longo prazo”, destaca o economista. Como o crédito habitacional tem prazos maiores e taxas de juros menores, seu peso no orçamento no curto prazo é menor que outros tipos de crédito. O crédito mais abundante e a renda em alta têm aquecido o setor imobiliário. No mercado paulista, as vendas de imóveis novos cresceram 21,5% em janeiro, na comparação anual, com comercialização de 1.030 unidades e valor de R$ 484 milhões, segundo dados do Secovi-SP.

Apesar do fôlego, uma dúvida cresce entre investidores: o preço dos imóveis vai continuar subindo? “O valor ainda cresce, mas a velocidade de aumento está caindo”, aponta Francisco.


Fonte -Fonte: Valor Econômico / Roberto Rockmann

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