DESEMPREGO APÓS JOGOS RIO 2016 PREOCUPA AUTORIDADES E ESPECIALISTAS

Futuro de 30 mil trabalhadores da construção civil é incerto. Economistas preveem crescimento do desemprego no estado.

Autoridades e economistas mostram preocupação com o que pode acontecer com o os empregos no Rio de Janeiro depois dos Jogos Olímpicos. A taxa de desemprego no estado, atualmente, é uma das menores do país, em parte por causa dos investimentos com o mundial.

A nova pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre desemprego mostrou que a taxa no Rio de Janeiro em janeiro foi de 5,1%. É o mesmo percentual de dezembro do ano passado, mas bem maior que o de janeiro de 2015, quando a taxa ficou em 3,6%.

Anderson da Silva é operador de escavadeira e está desempregado. Antes de ficar sem trabalho, no entanto, ele participou das obras de revitalização da Praça Mauá e da Rodoviária Novo Rio, além do Museu do Amanhã e do Túnel 450.

“O mercado de trabalho estava ótimo, inclusive eu consegui empregar vários amigos na obra. A obra estava a todo vapor, precisando muito de mão de obra, então estava muito bom, mas aí no término é normal ir dispensando, os jogos já estão chegando. Quem comeu, comeu, quem não comeu vai ter que ficar esperando uma outra oportunidade dessa aí aparecendo na cidade”, disse Anderson.

José Ailton da Silva também ficou desempregado recentemente, depois de três anos e cinco meses dedicados às obras da região portuária do Rio.

“Já comecei a procurar, comecei a ligar para algumas pessoas conhecidas, mas as portas estão todas fechadas. Eu trabalho de auxiliar de topografia, nivelador e também tenho na carteira de carpinteiro, o que surgir primeiro é que eu vou fazer”, disse.

O Sindicato da Construção pesada vem recebendo cerca de 100 pessoas por dia para dar baixa na carteira de trabalho. Todas elas trabalhavam em obras olímpicas e já foram dispensadas.

As Olimpíadas e grandes empreendimentos ajudaram a diminuir os impactos da crise no Rio.

Os 30 mil novos quartos de hotel significam 120 mil novos postos de trabalho, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis. Mas quase 9 mil trabalhadores da construção pesada foram dispensados em 2015.

A onda de desemprego deve aumentar com a entrega das obras para os Jogos e o fim de grandes empreendimentos, como os BRTs. O futuro dos 30 mil trabalhadores que hoje estão empregados na construção é incerto.

“Hoje você já encontra nos sinais do Rio de Janeiro diversos trabalhadores profissionais, soldadores, encanadores, etc, vendendo água, biscoito e tudo mais. Por quê? eles estão ali porque já acabou o Seguro Desemprego deles e ele está sem emprego, não tem emprego em vista. Essa situação é caótica e nós estamos muito preocupados com isso”, disse o presidente do Sindicato da Construção Pesada, Nilson Duarte.

A conta do desemprego ainda inclui os trabalhadores de hotéis, bares e restaurantes. As olimpíadas devem gerar 3 mil empregos temporários, que podem desaparecer assim que os jogos terminarem.

O governo do estado aposta em grandes obras de saneamento, previstas para esse ano, para absorver essa mão de obra.

“Tem dois projetos que são fundamentais para geração de emprego. O projeto Águas da Baixada, onde a Cedae vai aplicar aproximadamente R$ 3,5 bilhões, que é o maior investimento da história da Cedae, um projeto que a gente estima na geração de empregos entre diretos e indiretos em mais de 20 mil empregos. O outro projeto é de saneamento em comunidades pacificadas”, enfatizou o secretário estadual da Casa Civil, Leonardo Spíndola.

O economista Mauro Osório concorda que esses projetos vão ser suficientes para manter o nível de emprego na construção. “Tem obra de água que deve acontecer em agosto. Esse conjunto saindo estaria compensando e criando emprego na construção civil  e mantendo situação ou até melhorando na nossa região metropolitana”, avaliou.

Já o economista Manoel Thedim prevê um período de ressaca no mercado de trabalho no Rio. “Não tem a menor dúvida que a crise política e econômica do Brasil vai atrapalhar muito a reabsorção desse contingente de mão de obra que vai ser dispensada. Não há perspectiva de curto prazo de outros projetos de investimentos no tamanho necessário para absorver essa gente, então certamente os menos produtivos vão para o mercado informal. Ninguém pode ficar sem trabalho, sem ter renda – e uma parte desse pessoal vai para o mercado informal e outros vão piorar de trabalho”, ponderou.

Fonte: G1

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