Os resultados da indústria de shopping centers deixam qualquer empreendedor de queixo caído. Neste século, o setor não registrou retração em nenhum momento. Melhor: cresce a taxas de dois dígitos ininterruptamente desde 2007. No ano passado, o faturamento bateu em R$ 119,5 bilhões, aumento de 10,64% em relação a 2011, e foram inaugurados 27 empreendimentos, um recorde. Que, diga-se de passagem, será facilmente batido em 2013, quando 47 novos equipamentos deverão entrar em operação. Apesar do bom desempenho, o índice de 10,64%, o menor dos seis últimos anos, desperta dúvidas quanto ao vigor das futuras expansões.
“A economia brasileira começou a andar de lado e a grande pergunta é saber se o mercado consumidor continuará forte” explica Luiz Fernando Veiga, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). “Houve uma reversão nas expectativas”, admite Filipe Vasconcelos, diretor geral da Brookfield. “O panorama começa a preocupar”, reforça Veiga. O otimismo foi derrubado basicamente pelo Produto Interno Bruto (PIB), que fechou 2012 com alta de 0,9%, o pior desempenho desde 2009, no auge da crise econômica, e pela expansão de apenas 0,6% no primeiro trimestre de 2013, bem abaixo do esperado pelos analistas. Mesmo preocupada, a Abrasce trabalha com a estimativa de crescimento de 12% no faturamento deste ano. “Apesar de o momento ser de cautela, é preciso ressaltar que a indústria de shopping, por fazer grandes investimentos e trabalhar com perspectivas de longo prazo, é pouco afetada pelos resultados de um único ano”, explica Vasconcelos. A visão de longo prazo dos empreendedores e o crescente interesse do mercado financeiro pelo setor, que resultou em uma enorme capitalização, explicam o fato de 32 novos shoppings já terem sido anunciados para 2014. Além disso, 80% dos centros de compras em atividade estavam em expansão em 2012 e 13% ganharam novos espaços nos próximos dois anos, como detectou o Censo 2012/2013, realizado Abrasce. Tudo isso parece indicar que o segmento pode perder fôlego, mas dificilmente passará por um período de retração. “Os bons projetos devem ser implantados, apesar das dificuldades momentâneas”, afirma Eduardo Prado, superintendente de relações com os investidores da Aliansce.
Independentemente dos problemas a serem enfrentados em função do desempenho insatisfatório da economia, empresários e consultores concordam em um ponto: a indústria de shoppings ainda tem espaço para crescer no Brasil, onde existem 50 m2 de área bruta locável (ABL), o espaço ocupado pelas lojas, para cada grupo de mil habitantes. Essa relação é de 81 m2 no México, 237 m2 na França, 1.354 m2 no Canadá e 2.192 m2 nos Estados Unidos.
O presidente da Abrasce lembra que continuam inalteradas algumas condições que favorecem a instalação dos equipamentos no Brasil, em especial a inexistência de locais públicos seguros. “As cidades querem os shoppings porque contribuem para o desenvolvimento da região e oferecem novos empregos”, diz Veiga. “Os consumidores querem os shoppings locais onde podem se encontrar e realizarem compras com segurança e conforto”, diz.
De olho nesses anseios e nas boas oportunidades, claro, os empreendedores expandem as atividades para cidades com bom poder aquisitivo. Depois de conquistar as capitais – que ainda exercem grande atração -, a indústria caminha para o interior. Neste mês, a Abrasce contabiliza a existência de 234 shoppings em cidades interioranas dos 463 em operação. “Mesmo assim, há uma forte concentração de empreendimentos, de 73,4%, nas regiões Sudeste e Sul, especialmente nas capitais. A expansão não ocorre de forma planejada”, comenta Luiz Alberto Marinho, sócio diretor da GS&BW, unidade da GS&MD – Gouvêa de Souza especializada em shopping centers.
A concentração deve perdurar por um tempo. Dos 47 equipamentos programados para entrar em operação em 2013, 12 estarão localizados no Sudeste e 18 no Sul. Mas a indústria descobre o potencial de outras regiões. “Nos últimos anos, o Nordeste recebeu boa parte dos novos empreendimentos”, diz Marcos Romiti, presidente da Nassau Empreendimentos. Neste ano, a região deve inaugurar nove shoppings e para 2014 estão programadas outras sete inaugurações.
A expansão acelerada dos seis últimos anos, quando o número de equipamentos aumentou 30% e a ABL cresceu 50%, e a entrada de novas empresas no setor, nem sempre com grande experiência, podem colocar em risco as chances de sobrevivência de empreendimentos instalados em cidades onde a concorrência é – ou está em vias de ser – muito grande. Um bom exemplo é Sorocaba, município do interior paulista com aproximadamente 587 mil habitantes, que já tem shopping. No ano passado, foram anunciados quatro novos centros de compras, dois deles com inaugurações previstas para o segundo semestre deste ano.
Com o aumento da concorrência e a persistirem as dificuldades econômicas, a tendência é de a maturação dos equipamentos e o retorno do capital ocorrerem em prazos mais longos, como acontece em outros mercados. “Nos Estados Unidos, o retorno acontece em aproximadamente 20 anos e no Brasil, entre dez e 12 anos, mas a tendência é de esse prazo aumentar”, comenta Vasconcelos, da Brookfield. Outra tendência é a de consolidação do segmento em grandes grupos, como acontece no exterior.
Fonte -Fonte: Valor Econômico / Jane Soares