Reportagem especial da Carta da Indústria
Há mais de 40 anos fabricando e reparando diversos equipamentos para as indústrias de petróleo, gás natural, mineração e siderurgia, a PWR Mission, situada na capital, é um exemplo de empresa que sabe se adequar às demandas do mercado de óleo e gás e colhe os frutos dessa parceria. Para o triênio 2022 a 2024, o Mapeamento de Demanda para as cadeias de valor de petróleo, gás e naval somam mais de R$ 300 bilhões, de acordo com levantamento da Firjan. E parte desse montante tem potencial de ser fornecido por pequenas e médias empresas fluminenses. Com o objetivo de prepará-las para esse desafio, a Firjan SENAI SESI vem realizando este ano o Programa Rede de Oportunidades, que conecta grandes demandantes e possíveis pequenos e médios fornecedores.
O levantamento da federação mostra que 47% dos fornecedores vendem para os grandes players há mais de 20 anos; e há sempre outros novos entrantes nesse cenário. Os produtos e serviços não são apenas de atendimento técnico exclusivo para o óleo e gás, mas de alimentação, vestuário, transporte, entre outros. Luiz Leão, gerente de Negócios da PWR, explica o que é imprescindível para se conquistar esse mercado: “Respeito à qualidade dos produtos e serviços e aos requisitos postos pela demandante. O segmento é extremamente crítico, com elementos pesados e severos. A melhor maneira de se manter no mercado é garantir que os produtos sejam feitos com alta qualidade”.
Para Leão, as certificações mais importantes nessa área são as relacionadas ao API (Instituto Americano de Petróleo). “Mas cada produto e serviço tem sua norma específica. Existe o sistema de gestão certificado de acordo com a Norma Q1, que só a PWR e outras 30 empresas no Brasil possuem. Tudo começou nos anos 2000 com as Normas ISO e vem evoluindo para separar o joio do trigo. As certificações ISO são genéricas, e as da API, específicas e precisam ser revalidadas anualmente”, esclarece.
Programa Rede de Oportunidades
Como resultado dessa aproximação da Firjan SENAI SESI junto a cerca de 200 pequenas e médias empresas, foi detectado que a maior parte delas ainda precisa obter as principais certificações exigidas, como a adequação às Normas Regulamentadoras (NRs) 10, 12 e 35, entre outras, e a ISO 9001. A Firjan SESI oferece cursos para atender às NRs, que estabelecem requisitos técnicos e legais sobre segurança e saúde do trabalho (SST).
Leão conta que recorre aos serviços da Firjan SENAI para as qualificações de pessoal e de processo no caso da soldagem. “Para algumas modalidades de inspeção e de controle da qualidade, a gente utiliza o Sistema S”. O Instituto SENAI de Tecnologia (IST) Solda se tornou referência para certificação de profissionais do Rio de Janeiro e da Europa. Acreditado pelo Inmetro a certificar diretamente esses técnicos, o IST Solda já realizou cerca de 30 mil atendimentos em mais de 25 anos, por meio do Centro de Exames de Qualificação da Firjan SENAI, o Cequal.
A EBSE Engenharia de Soluções, que foi uma das empresas âncoras do Rede de Oportunidades, recebeu cerca de 30 possíveis fornecedores em dois dias de evento. “Temos perspectiva de fechar negócios com uns 15 a 20 empresários. São fornecedores novos que nos buscaram para saber da demanda e como se cadastrar”, comemora Marcelo Bonilha, presidente da companhia, que deve fechar 2022 com R$ 100 milhões em compras.
O Programa Rede de Oportunidades é trabalhado com os fornecedores em conexão com os grandes demandantes. O programa é bem amplo. São feitos os contatos com as empresas associadas, que recebem informações privilegiadas e apoio para fechamento de negócios. Até outubro, a Firjan SENAI SESI organizou três eventos, reunindo quatro grandes compradores – EBSE e Nuclep em julho, SBM Offshore em agosto e Equinor em setembro – que apresentaram oportunidades de negócios a potenciais fornecedores. Está programado um quarto com a Modec, em 21/11.
Mais de 260 empresas participaram e cerca de 200 preencheram um formulário, em que foram mapeados os itens demandados e fornecidos. Após análise, foram levantadas mais de 210 oportunidades atreladas a mais de 5 mil bens e serviços no estado. Pelo levantamento, há mais de 400 empresas fluminenses aptas a suprir os pedidos.
Com sede na zona oeste, na Capital, e com 109 anos de existência, a EBSE fornece para a Petrobras e grandes operadores. Na hora de contratar, Bonilha diz que dá preferência para empresas do Rio. “Fazemos uma análise da capacitação técnica e financeira do possível fornecedor. O compliance da empresa é muito importante, exigimos alguns documentos, o que é normal no mercado. Nem somos tão rigorosos, para tentar viabilizar as parcerias no estado”, conta.
Como trabalha com um tipo de chapa de aço para fazer dutos de óleo ou gás, que não é produzida nas siderúrgicas do Rio, a EBSE recorre às de Minas Gerais, mas contrata insumo de soldagem, transporte comum e especial, tinta e outros aqui do Rio. “A cadeia que é importante: ser e ter fornecedor de confiança. São três pilares: preço, prazo e qualidade. Preservamos muito a parceria de longo prazo, mas estamos de olho em alternativas. É bom trabalhar com quem você conhece e confia. Para os novos, digo: ‘Não desistam’”, resume Bonilha.
Rodadas na Rio Oil & Gas
A tendência é que as demandas se ampliem, o que foi possível perceber na Rio Oil & Gas 2022, que ocorreu em setembro. A feira mostrou a força do mercado do Rio e também o que está acontecendo no Brasil e no mundo. “A estrada de óleo e gás estará voltada para a demanda energética. O que se percebe no Brasil é que a jornada alargou. Há mais acordos e uma série de operadores que trabalham no Brasil para ampliar a produção. Além disso, há a aposta nos renováveis, com a integração energética, agregando novas fontes e a redução de emissão de carbono”, destaca Karine Fragoso, gerente de Petróleo, Gás e Naval da Firjan e diretora geral na Organização Nacional da Indústria de Petróleo (ONIP). Pela primeira vez, em 40 anos, a Rio Oil & Gas foi certificada como evento Carbono Zero.
A Firjan SENAI apoiou, na feira, a Rodada de Negócios correalizada pela ONIP e Sebrae, que teve 30 empresas âncoras. Foram selecionados quase 500 fornecedores para reuniões de apresentação com as âncoras e muitos puderam fechar negócios. Além disso, o estande da Firjan SENAI SESI recebeu inúmeros parceiros e clientes. A atuação da federação durante a feira ainda contou com a recepção de delegações internacionais, café da manhã realizado em parceria com a Apex Brasil e a ONIP, além de três reuniões com missões da Argentina, com participação do cônsul da Argentina no Rio e do embaixador da Argentina no Brasil.
Estudo apresentado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) prevê US$ 183 bilhões em investimentos, no acumulado de 2022 a 2031, somente a partir da atividade de exploração e produção (E&P). A cadeia produtiva de óleo e gás representa mais da metade do PIB industrial do estado do Rio e assume relevância estratégica na transição energética. “A busca em conciliar aspectos climáticos com socioeconômicos, a importância da integração das diversas energias e o engajamento de todo o mercado para encontrar soluções econômicas viáveis foram destaques na Rio Oil & Gas”, resume Karine.
Roberto Ardenghy, presidente do IBP, organizador da Rio Oil & Gas, diz que o Rio de Janeiro se destaca como um importante polo de energia, onde serão discutidas as fórmulas e o futuro da indústria de petróleo e gás. “As perspectivas são muito positivas, porque o Brasil tem uma realidade geológica muito favorável. Parte das maiores descobertas que aconteceram nos últimos anos estão no Brasil, sobretudo no pré-sal. A Margem Equatorial também tem uma boa perspectiva”, afirma.
Raul Sanson, 2º vice-presidente da Firjan CIRJ, destaca os investimentos onshore. “É um grande segmento no momento no Brasil e terá bastante desenvolvimento. Atendemos também a indústria offshore, mas temos competência para a onshore. No mar, a tecnologia é mais sofisticada e vem sendo dominada por grandes grupos internacionais que produzem as FPSOs”, analisa Sanson. Já na extração em terra, as sondas são menores, exigem menos pressão e risco.
Para ajudar os pequenos fornecedores, Sanson lembra que a federação oferece a certificação de produto de origem brasileira, exigida quando as companhias compram itens no Brasil e têm que provar que realmente foram fabricados aqui.
Perspectivas no Norte Fluminense
A Firjan tem atuado para estimular os negócios e capacitar fornecedores do Norte Fluminense em parceria com o Porto do Açu, um dos maiores complexos de infraestrutura do Brasil, que concentra R$ 20 bilhões em investimentos. Já foram realizados dois workshops este ano e está prevista uma rodada de negócios para fevereiro de 2023. O encontro de setembro para desenvolvimento de fornecedores locais atraiu mais de 100 empreendedores da região.
“Ao fim de 2021, mais de 280 empresas de Campos dos Goytacazes e São João da Barra estavam cadastradas e prestavam serviços ao empreendimento portuário. Em 2022, o volume de fornecedores locais já chegou a 17%”, revela Renata Colares, gerente de Suprimentos do Porto do Açu Operações, que é responsável por 30% das exportações de petróleo do país e ergue o maior parque de geração de energia a gás da América Latina, além de possuir projetos na área de eólica marinha e hidrogênio verde.
Entre os temas abordados nos encontros estão compliance, normas regulamentadoras (NRs), saúde financeira e certificações. “O Açu será o porto da transição energética com a materialização de projetos que irão colocar o Rio e o Brasil em uma posição de destaque nos esforços mundiais de transição para uma economia de baixo carbono. Entre nossos clientes e parceiros, estão a Anglo American, British Petroleum (BP), Equinor, Shell, Petrobras, SPIC, Siemens e o Porto de Antuérpia”, acrescenta Renata. E o mercado local poderá se beneficiar. Para isso, a companhia realiza ações específicas de formação e qualificação de empresas para atuarem em venda de produtos e serviços.
Francisco Roberto de Siqueira, presidente da Firjan Norte Fluminense, destaca a parceria estratégica desenvolvida com a Porto do Açu “em diversas ações empreendidas pela Firjan SENAI e Firjan Norte Fluminense, em especial naquelas relacionadas à qualificação profissional, melhorias de infraestrutura da região, mercado de petróleo, diversificação industrial e integração energética”.
Clique aqui e leia outras reportagens da Carta da Indústria.
_____________________________________________________________
Fonte: firjan.com.br