Há exatamente dois anos, o mercado financeiro foi surpreendido com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de cortar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 12% ao ano. A razão para a reversão inesperada da trajetória da política monetária naquele momento era o cenário externo, cuja fraqueza poderia afetar a atividade doméstica e, por tabela, a inflação.
Agora, a reversão do quadro internacional torna a definição da política monetária mais desafiadora. A perspectiva de redução dos estímulos nos EUA deixa suas marcas sobre o dólar, preços de commodities e juros futuros, já que promete alterar o mapa dos fluxos globais. Tudo isso em um momento em que a atividade econômica doméstica segue em ritmo lento e a confiança desaba.
Esse quadro provocou forte instabilidade. Com a arrancada do dólar, o mercado de juros futuros da BM&F chegou a espelhar, em certo momento, a possibilidade de uma aceleração do passo do aperto monetário, para uma dose de 0,75 ponto percentual. Nos últimos dias, contudo, voltaram a ser majoritárias as apostas em elevação da Selic em 0,50 ponto, para 9% ao ano. Muito por conta de declarações, no início da semana, do presidente do BC, Alexandre Tombini, vistas como uma sinalização de que o Copom não pretende alterar o ritmo de aperto.
É o que esperam também os especialistas. A alta de juros, para os 34 economistas ouvidos pelo Valor, deve ser de 0,5 ponto, para 9% ao ano. Apenas uma casa – a ARX Investimentos – trabalha com o intervalo 9%/9,25%. Alinhandos em relação ao encontro do Copom este mês, os economistas discordam quanto à amplitude do aperto monetário. Dez esperam apenas mais um ajuste de 0,25 ponto em outubro, para 9,25%. Os demais se dividem entre projeções para uma Selic de 9,5%, 9,75% e 10% ao ano.
O que mudou de 2011 para cá é outro elemento que gera muita incerteza: o quadro fiscal. Em 2011, pesou a favor do início do ciclo de alívio monetário a súbita e aplaudida decisão do Ministério da Fazenda de ampliar o superávit primário em mais R$ 10 bilhões. O anúncio foi feito às vésperas da reunião do colegiado e interpretado como sinal de compromisso com uma política fiscal severa. Políticas fiscal e monetária, portanto, andavam juntas. Agora, dizem os especialistas, o país não conta com um ajuste fiscal crível, o que torna a tarefa do BC mais árdua.
“Acredito que a estratégia do BC hoje, seja alongar o processo de subida em vez de intensificar a alta já agora. Ele sabe que sozinho não vai resolver o problema da falta de credibilidade nas políticas econômicas domésticas e ainda enfrentará em setembro a decisão do Fed sobre o “tapering” [redução de estímulos monetários]”, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.
A economista da ARX considera difícil fazer projeções para a Selic no fim deste ano e do próximo, dado o momento do câmbio. “Mas estou achando que será muito difícil manter a Selic abaixo de dois dígitos mesmo com a economia muito fraca como projetamos. Por enquanto mantenho 9,50%”.
A equação câmbio depreciado versus atividade fraca é outro elemento considerado nas projeções dos economistas. Afinal, a demanda enfraquecida será um limite para os repasses do câmbio aos preços? Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a intensidade da depreciação pode levar a inflação para cima dos 6,5% em 2014. “É o risco Dilma [presidente Dilma Rousseff] pintando ano que vem”, afirma.
Vale trabalhar com um dólar em R$ 2,60 para o fim de 2014, mas reconhece que a taxa é muito volátil. Apenas um indicativo. “Tenho a impressão que vamos terminar com uma taxa provavelmente bem acima disso. Será época que a Dilma terá ganho e seguirá fazendo o que tem feito, ou seja, nada, e com as agências de risco em fase de aquecimento para tirar e/ou baixar nosso “investment grade”. Será um longo e tenebroso segundo mandato [da presidente Dilma, que deve concorrer à reeleição em 2014].”
Fonte -Fonte: Valor Econômico / Angela Bittencourt e Lucinda Pinto e Antonio Perez