CLIENTE QUER ECONOMIA E SUSTENTABILIDADE

Pesquisa da CBIC indica que gastos reduzidos com água e luz, além de ganho ecológico, são as preferências do comprador de imóvel.

Eficiência energética é palavra de ordem no controle operacional de edifícios para enfrentar a crise nos reservatórios de água em São Paulo e o aumento da conta de luz. Pesquisa do Instituto Sensus, encomendada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), destaca quatro “inovações tecnológicas” como preferências do comprador na hora de adquirir imóvel. “Economia”, na opinião de 30,2%, vem em primeiro lugar, seguida por “segurança” (16,3%), “conforto” (4,9%) e “é ecológico” (4,1%) entre os itens lembrados de forma espontânea.

Economia de água e energia, com a consequente redução de gastos do condomínio e menor impacto ambiental representam eixos das construções sustentáveis. São processos enraizados nos chamados prédios verdes, segmento cuja participação cresce no País, notadamente em São Paulo. As outras duas inovações, apontadas pelos clientes, estão ligadas à automação residencial, uma ferramenta capaz de já trazer a casa do futuro para os dias de hoje.

As lembranças espontâneas coincidem com as respostas às perguntas induzidas. Para 21,4%, a racionalização de energia é a inovação “mais importante” que os entrevistados esperam ver em casa. Alarme elétrico (12,7%), racionalização de água (12,1%), teto solar para geração de energia (8,5%) e monitoramento por câmera (7,5%) completam os cinco itens mais citados.

Realizado pela CBIC, o estudo “A inovação da construção civil no Brasil sob a ótica do consumidor” foi coordenado pelo Sensus, que ouviu 1.100 pessoas em 23 estados e no Distrito Federal. A divulgação ocorreu na Feira da Construção (Feicon), em março.

Prédios verdes têm duas certificações principais: Leed (Leadership Energy and Enviromental Design), do Green Building Council, e Aqua (Alta Qualidade Ambiental), da Fundação Vanzolini. Promovem práticas sustentáveis na construção, ações que aumentam o conforto, redução nos custos operacionais e de manutenção dos imóveis.
Corporativo. Para Hamilton de França Leite Junior, diretor de sustentabilidade do Sindicato da Habitação (Secovi-SP) e da Casoi Desenvolvimento Imobiliário, há dois lados no mercado. Um é o corporativo, com lajes para grandes empresas. “Está bem desenvolvido”, diz. “Locatários e investidores demandam por isso.”

Corporações como Google e Microsoft, segundo ele, se instalam lá para ligar a construção sustentável à imagem da empresa e porque sabem que é econômico. “A indústria produz esse tipo de imóvel porque o cliente pede”, afirma. “Hoje, é impensável fazer lançamento corporativo em São Paulo que não seja sustentável.”
Residencial. Outro lado da moeda é o residencial, diz o diretor do Secovi, destacando que, neste caso, o número de empreendimentos é bem menor. E aponta a razão: “A obra sustentável é um pouco mais cara. Grosso modo, 2% a 5% a mais que a convencional”.

O incorporador, segundo ele, não sabe se o consumidor paga o custo adicional. “O consumidor vai querer esse imóvel quando tiver conhecimento dos benefícios, em termos de economia, saúde e bem-estar. Aí vai ver que a conta sai barata.”

Barreira. Pesquisa feita por Leite Jr. para dissertação de mestrado, no ano passado, mostra que o custo adicional é o maior obstáculo para construção sustentável decolar no Brasil. Esta foi a avaliação de 82% dos profissionais ouvidos por ele. Segundo relato de quem já fez prédio verde, o acréscimo chega a 8,6%. Na percepção de incorporadores sem experiência no ramo, o adicional pode superar 17%.
“Existe muito desconhecimento”, afirma o diretor comercial da Sustentech, Marcos Casado, que participou de painel na Feicon, em que apresentou dados de pesquisa feita pela revista Green Building. “80% dizem que o adicional fica abaixo de 6%”, declara. “Nos projetos sob consultoria da Sustentech o índice não passa disso.”

R$ 13 bilhões:

O mercado da construção sustentável, tendo como base o valor geral de vendas dos imóveis com registros e certificações Leed, somou R$ 13,6 bilhões no País, segundo estudo da EY (antiga Ernst & Young), feito a pedido do GBC Brasil e divulgado em 2013. “Representa 8,3% do PIB de edificações de 2012, que chegou a R$ 163 bilhões”, diz o estudo.

Um levantamento do GBC, com empreendimentos certificados nos Estados Unidos, indica que prédios verdes apresentam economia de até 30% nos gastos de energia e até 50% no consumo de água, além da redução de 35% na emissão de carbono.

Esses dados foram incluídos no estudo da EY, que destacou a expectativa do GBC Brasil de fechar 2013 com 900 projetos Leed. “Não atingimos a meta”, diz o diretor do GBC Brasil, Felipe Faria. “O total chegou a 829.”
Empreendimentos corporativos são maioria em certificações Leed. Faria também vê avanço nas obras para área industrial e de infraestrutura, além de estádios da Copa do Mundo.

O que atrapalha o aumento de construções residenciais, segundo ele, é a “falta de informação” de construtores e clientes. Ele lembra que o maior custo de qualquer construção ocorre durante sua ocupação. “Gastos com operação e manutenção são 75% do total”, informa, estimando um ciclo de 30 anos de vida útil da edificação.
Faria diz estar finalizando o GBC Casa para lançar neste ano. “É estudo de caso para testar viabilidade técnica e econômica desse referencial, visando maior inserção do movimento de construção sustentável no maior volume construtivo do Brasil que é o residencial.”

Horizonte:

Faria considera “bem significativo” o valor de R$ 13,6 bilhões que dimensiona o total de prédios verdes no País, até porque esse número diz respeito somente a registros do selo Leed. “O horizonte é maior. Existem o Aqua e outros, além de construções que adotam práticas sustentáveis sem pedir certificação.”

Para impulsionar os projetos verdes, é preciso que o mercado queira esse tipo de edificações, que as pessoas queiram comprar e morar nelas, diz Manuel Martins, coordenador executivo da certificação Aqua-Hqe. “E para querer, elas precisam saber usar.” Ele conta ter retorno de clientes que falam de um custo adicional inferior a 3%.

O diretor de incorporação da Odebrecht Realizações Imobiliárias, Saulo Nunes, diz que o custo será 4% a mais para as certificações no Parque da Cidade, na zona sul de São Paulo. “Estudos que fizemos indicam que a taxa de condomínio, tanto do comercial como no residencial, será de 8% a 10% mais barata do que o mercado”, afirma.


Fonte -Fonte: O Estado de São Paulo / Heraldo Vaz

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