O menor volume de criação de vagas no mercado de trabalho para um mês de julho em dez anos – apenas 41,5 mil – reforçaram os sinais de desaceleração do mercado de trabalho. A indústria, que vinha apresentando desempenho melhor que em 2012, abriu o mês de julho com apenas 7,1 mil vagas, 71% a menos do que criou no mesmo mês de 2012.
Os fracos números, revelados ontem na divulgação do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), são um dos primeiros dados econômicos referentes ao terceiro trimestre, já divulgados.
Com a menor criação de empregos com carteira assinada para o mês em dez anos, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, abandonou a estimativa de 1,4 milhão de novas vagas para 2013. O governo, agora, segue sem previsão oficial. Esta semana, após a arrecadação federal registrar alta real – descontada a inflação – de 0,9% em julho ante um ano antes, a Receita Federal passou a prever expansão em torno de 3% no recolhimento de impostos e tributos no ano, ante projeção anterior que variava entre 3% e 3,5%.
“Eu não tenho condições de prever se ninguém tem”, justificou Dias, sobre a extinção da estimativa para o mercado de trabalho formal no ano. Apesar de negar inicialmente que o resultado do Caged de julho tenha decepcionado, o ministro do Trabalho enfatizou que o emprego está crescendo. “Não é o número que gostaria que fosse, mas é um crescimento”.
Nenhum dos oito setores pesquisados pelo Caged conseguiu abrir mais postos de trabalho que em julho do ano passado. Nessa comparação houve, inclusive, dois segmentos que haviam criado empregos formais em julho do ano passado – o de serviços industriais de utilidade pública e o extrativo mineral – e fecharam vagas em julho deste ano.
O setor agrícola gerou 18,1 mil novos postos de trabalho, seguido por serviços (11,2 mil) e indústria de transformação (7,1 mil); construção civil (4,9 mil); comércio (1,5 mil); além de administração pública, que abriu 55 vagas no mês. Os dados de julho mostram que a economia continua gerando empregos com carteira assinada, mas em quantidade menor que no ano passado. O saldo de 41,5 mil é 70,9% inferior aos 142,5 mil novos postos de trabalho registrados em julho de 2012 e o menor para meses de julho desde 2003.
Na avaliação de Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, a perda de fôlego observada em julho “vem em linha com o comportamento do mercado de trabalho nos meses anteriores”. Para a consultoria, o resultado dessazonalizado do Caged aponta geração de 19 mil postos em julho. “É baixo, mas ainda melhor do que maio, por exemplo, quando verificamos pelo dado com ajuste fechamento de 17 mil vagas”, pondera. Thaís destaca o desempenho negativo do setor da construção, que fechou, segundo cálculos dessazonalizados da economista, 9 mil vagas e teve retração pelo terceiro mês seguido. O resultado, segundo ela, “mostra que há pouco espaço para criação de novas vagas”.
Fábio Romão, da LCA Consultores, diz que o Caged mostrou que a moderação do mercado de trabalho atingiu todos os setores. Romão chama atenção para o segmento de comércio e administração de imóveis, valores mobiliários e serviços técnicos, cujo saldo de vagas foi de 5,9 mil, menos da metade do registrado em julho de 2012. “Há muita coisa englobada nesse segmento, tipos de emprego bastante diferentes. Mostra uma piora espraiada nos serviços”, diz.
A abertura de 1,5 mil vagas no comércio em julho, segundo o economista da LCA, é a pior desde 1998, quando houve fechamento de 2,6 mil empregos, e bastante inferior à media do mês de julho nos dois anos anteriores, de 25,7 mil. O desempenho desse setor, para Romão, tem sido bastante afetado pelo enfraquecimento da renda média, que “tem desacelerado muito rapidamente”, depois de crescer 4,1% em 2012, ante o ano anterior. “Esperamos aumento médio neste ano de apenas 1,6% na variável”. O mercado de trabalho, diz Romão, deve repetir o comportamento moderado em 2014; a consultoria prevê taxa de desemprego de 5,7%. Neste ano, ela é de 5,5%, “com viés de alta”.
Na terça-feira (21/08), o ministro Dias não soube justificar os dados fracos do Caged em julho. “Não temos como explicar. Não temos dados que possamos informar”, respondeu, ao ser questionado sobre o assunto. O Caged “representa o momento da economia que estamos vivendo”, disse. “Eu não acho preocupante”, minimizou.
Fonte -Fonte: Valor Econômico / Thiago Resende e Camilla Veras