Em anos que chove pouco, venta muito. E vice-versa. Essa regra confirmou-se em 2012, quando a geração de energia pelos parques eólicos atingiu os mais altos índices registrados até hoje no Brasil. A falta de chuvas, ao contrário, reduziu a vazão dos rios e prejudicou as hidrelétricas, que geraram menos energia que o normal. A situação dos reservatórios tornou-se tão crítica que ressuscitou o fantasma do racionamento.
Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), os parques mais modernos, que começaram a ser construídos a partir de 2009, produziram em torno de 50% de sua capacidade instalada em 2012, sobretudo devido aos ventos excelentes no segundo semestre. Para a indústria eólica mundial, um índice entre 40% e 45% já seria considerado um ótimo desempenho.
A Abeeólica ainda não concluiu o levantamento sobre a geração de todas as fazendas em 2012, mas os números preliminares indicam que a geração eólica alcançou um fator de capacidade recorde. “Foi o melhor ano da história”, afirma Elbia Melo, presidente executiva da entidade do setor.
Alguns parques chegaram a produzir até mesmo mais do que 50% da potência instalada. De acordo com a entidade, uma fazenda no Ceará, por exemplo, alcançou o fator de capacidade de 56% no ano passado.
A energia produzida pelos parques eólicos brasileiros atingiu seu pico em outubro de 2012, de 771 MW médios. Em março, a geração havia recuado para 362 MW médios. Segundo a Abeeólica, a longo do ano, a produção média foi de 556,26 MW médios.
A capacidade instalada dos parques eólicos saltou de 1.430,5 MW em 2011 para 2.507,7 MW em 2012. No entanto, deste total, pelo menos 622 MW não entraram na rede elétrica devido aos atrasos na construção das linhas de transmissão. Essas fazendas foram concluídas e os consumidores brasileiros já começaram a pagar por essa energia, que foi vendida para as distribuidoras nos leilões passados, mas os parques continuam desligados do sistema nacional.
Por enquanto, o pior ano de ventos no Brasil ocorreu em 2009. Esse foi, ao contrário, um bom período de chuvas e um ótimo ano para a geração hidráulica. Os parques eólicos existentes naquele ano operaram com um fator de capacidade bastante baixo, entre 28% e 31%.
Como a energia eólica é recente no Brasil, as séries históricas do setor ainda não totalizam dez anos. Isso dificulta traçar cenários, estimativas e fazer estatísticas de desempenho, diz Elbia.
Os índices de produção, afirma a executiva, também, variam de acordo com a tecnologia empregada nos empreendimentos. Os equipamentos utilizados nas fazendas eólicas mais antigas, construídas durante a vigência do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), entre 2004 e 2009, ficaram obsoletos. Alguns desses parques possuem torres de 50 metros apenas, enquanto, nos projetos atuais, a altura dos aerogeradores não é inferior a 80 metros. O tamanho das pás também aumentou nos últimos anos.
Para a rede elétrica nacional, todo megawatt é bem vindo, mas o setor não é suficiente para assegurar o abastecimento de energia, que depende em grande parte das hidrelétricas. Justamente pelo fato da geração eólica ser intermitente e imprevisível, técnicos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) costumam vê-la com reserva.
Na avaliação do operador, a geração térmica (a gás, óleo e carvão) é a melhor alternativa para complementar a geração hidrelétrica, como ocorre neste momento. Todas as usinas termoelétricas do país foram ligadas no fim do ano e geram atualmente 14 mil MW por mês.
Elbia afirma, porém, que os números só reforçam o argumento de que a energia eólica é altamente complementar à energia hidráulica. Quando o clima desfavorece uma delas, beneficia a outra. É o casamento perfeito.
Fonte -Fonte: Valor Econômico/Claudia Facchini